É duro
admitir que falhamos, em qualquer profissão. Na minha, especificamente, é um
drama. Por mais que vocês ouçam de nós que assumir um erro faz parte do
dia-a-dia e apenas engrandece quem assume o mea culpa, isso é conversa
pra boi dormir. É duro, muito duro. Tenho alguns amigos grandiosos que não se
abalam, mas outras dezenas que recorrem ao álibi da amnésia proposital. Até
porque, com saudáveis exceções, vale a piada: sabe como radialista se suicida?
Sobe no ego e pula. Se for grande a falha então,
pelo-amor-de-deus-nossa-senhora-jesus-maria-josé. O problema não é tanto a
vergonha, os olhares de reprovação de nossos pares, as gozações de quem não vai
com a nossa cara, mas sim o medo da perda de credibilidade junto às nossas
fontes, ouvintes e leitores. Assumir rapidamente a “mancada”, como chamamos as
burradas no nosso jargão, ajuda a diminuir o estrago. Erros vão acontecer,
sempre, porque somos humanos e lidamos com material humano. Essa é uma certeza
imutável da profissão – que se junta a outras, como “não se fica milionário
sendo repórter” e “a edição sempre fecha no final”. Não estamos sozinhos.
Imagino o quanto é difícil seja para um político, ainda mais ocupando cargo
público, assumir que a sua administração, ou a do seu partido, errou. Temendo
as repercussões negativas, alguns negam até o osso (Geraldo Cabeça de Pitu é
rei!) para evitar contaminar sua imagem – ou salvar o pouco que dela resta. É
aquela velha coisa: só é erro se te descobrem. O pior é que, Vane diz sempre
que parte da responsabilidade pelos graves problemas que voltaram a acontecer
em Itabuna seria culpa do ex-prefeitos capitão Azevedo, que deixou a
prefeitura falida e a cidade destruída. Sabe aquela história de corrupção,
desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito...? Então, taí. Fico
imaginando o prefeito dizer: “Foi muita coisa roubada na gestão passada, mas
uma sindicância já foi aberta e devemos apontar responsáveis em 30 dias, doa a
quem doer”. A gente sabe que, no final, vai doer só em um Zé Mané qualquer,
mas, ao menos, seriam levantados podres oficialmente. E, mais do que isso,
pedir desculpas à população. Se o modus operandi fosse adotado pela classe
política como um todo, seria um passo em direção à civilidade que tanto
perseguimos, mas que se afasta de nós como diabo foge da cruz. É claro que isso
vai contra a idéia de Virtude, de Maquiavel – grosso modo, os meios necessários
para fortalecer o poder e impor sua vontade em momentos difíceis. Mas é
divertido pensar como seria se fosse diferente. O sentimento da população itabunense
de estar sendo enganada, que é dormente (afinal de contas, somos muito
participativos politicamente falando, né?) e acorda quando surge uma matéria
dessas, volta ao estado de sonolência após a denuncia das mortes evitáveis que
se sucedem no Hospital de Base Luiz Eduardo Magalhães. E, sem pressão, não
funciona. Ou seja, no raciocínio dos administradores, o negócio é fazer
gerenciamento de danos à imagem até o problema passar. Enfim, errar é humano,
já dizia o velho ditado. Dar uma de desentendido e jogar a culpa em terceiros é
político.
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