Acertada e providencial, sob todos os aspectos, a medida do prefeito de
Itabuna, Vane do Renascer, em cancelar a participação do poder público
municipal no Carnaval popular para conter gastos. Como o próprio prefeito
assinalou, o município de Itabuna vive uma situação atípica com a redução de
recursos, sobretudo, nos repasses constitucionais e é preciso, portanto, conter
gastos, para não prejudicar os serviços essenciais. A não realização do
carnaval em Itabuna, torna-se necessária para que haja mais recursos para, por
exemplo, os trabalhos visando a limpeza de prevenção e combate a dengue. Mesmo
dando-se o direito de discordar ou criticar, são argumentos irrefutáveis,
ditados pelo bom senso. Além do que, não se está proibindo que a sociedade
promova o Carnaval. No bairro Santa Clara, o líder comunitário “Babá Cearense”
está assegurando o carnaval local. Além da contenção de gastos, a medida é
providencial, pois a insegurança faz Itabuna está com preocupante índice de
terceira cidade mais violenta da Bahia e oitava no Brasil, o que demandaria
mais gastos do Estado e município, para que os foliões não ficassem vulneráveis
a ações dos criminosos. Boa medida esta de Vane, que merece nossos aplausos.
Vale a Pena Ler
ResponderExcluir'Quanto é o bastante: dinheiro e a vida boa', por Cristovam Buarque
'Quanto é o bastante: dinheiro e a vida boa' é um livro de Robert Skidelsky e Edward Skidelsky. Robert Skidelsky é o mais conhecido biógrafo de John Maynard Keynes. Ele nada tem de economista verde, nem de pessimista sobre o futuro do desenvolvimento. Mas, ele e seu filho Edward escreveram um belo livro sobre a ideia de um limite ao crescimento, não apenas ecológico, mas também moral e existencial.
A continuação do crescimento econômico é impossível e é desnecessário. As pessoas não vão conseguir consumir mais no mundo inteiro, e não precisam consumir mais para serem felizes.
Obviamente há um mínimo necessário do qual cerca de quatro bilhões de seres humanos estão excluídos. Porém há excedente no consumo de outros três bilhões. Isso impossibilita o mesmo padrão de consumo das classes médias e ricas do mundo para todos, não importa em que país a pessoa viva.
Apesar de que há uma forte resistência a esta constatação óbvia, fisicamente lógica e convincente moralmente, ela está cada vez mais aceita, menos na elite pensante brasileira, especialmente naqueles que são de esquerda.
Porque a direita, sem moral, mas, com lógica, não defende estender o consumo elevado para todos. A esquerda, por ilusão ou oportunismo, vende a ideia de que todos poderão ter um ou dois ou três automóveis. Oportunismo e egoísmo, porque não quer dividir o que tem, nem negar aos outros, e termina prometendo o impossível.
Recentemente, no debate relativo à redução nas tarifas de luz, um conhecido ator disse que um crítico ao incentivo à ampliação do consumo de luz, não queria que os pobres tivessem ar condicionado. Mas ele não aceitaria, diante da óbvia crise energética no futuro e do desperdício de hoje, que alternassem quem tem com quem não tem ar condicionado. Ele não quer ficar sem o dele durante um ano para que os pobres tenham. Então promete a mentira de que todos terão.
Também já está claro que todos terem automóveis privados será como se ninguém tivesse, todos ficariam paralisados em monumentais engarrafamentos, mas os que oferecem o impossível não aceitam uma regra de rodízio para que alguns tenham carro um ano e outros no ano seguinte.
Mas a crítica aos limites ao crescimento não se limita aos aspectos ecológicos, ela tem uma dimensão moral. A felicidade é um conceito sério demais para vincularmos como sinônimo de mais consumo. Não foram os economistas que começaram a falar isso, foram filósofos e os jovens hippies.
A humanidade precisa substituir seu padrão de bem estar, conforto e felicidade por algo mais substancioso moral e existencialmente do que a renda e o consumo.
Este livro do Skildelsky é um formidável texto para aqueles que resistem a isso, seja porque optam indecentemente para que apenas alguns consumam muito e outros consumam quase nada e para os que prometem a ilusão de que todos terão tudo.
Ele não fica apenas na divagação hippie, vai ao grande cientista do crescimento no século XX, o economista John Maynard Keynes, e tira dele até mesmo um número de quanto seria o limite máximo que cada pessoa precisa para ter a vida que deseja, sem a ilusão de uma abundância elusiva, na qual nunca chegaremos.
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF