Há mais de 250 anos, desde quando foi
introduzido na Bahia, o cacau é responsável pela conservação de recursos
naturais em sua área de influência. Os primeiros produtores acreditavam que a
sombra da cobertura das árvores era necessária para o aumento da produção.
Assim, da mata nativa, apenas foi retirada a parte necessária ao plantio da
cultura, ou seja, o sub-bosque. Ao contrário do que diz a pesquisa da CNN
citada na nota do Bahia Notícias (veja aqui), a cultura do cacau, no recorte
Bahia, é que garantiu a conservação de grande parte do que resta da Mata
Atlântica em nosso estado. Tanto é que, ao sobrevoar a região, o turista desavisado
pensa estar planando sobre uma mata nativa. Bem, embora em muitas áreas esta já
não seja mais intocada, é, sim, um exemplo de convivência entre a produção em
larga escala e o meio ambiente. Embaixo da mata há uma cultura intensa, embora
de baixo ou baixíssimo impacto ambiental. Basta imaginarmos que no sul da
Bahia, em apenas um hectare com plantação de cacau, no sistema Cabruca, podem
ser (já foram) identificadas mais de 270 espécies de mamíferos (90 endêmicas);
372 de anfíbios (260 endêmicas); 197 de répteis (60 endêmicas); 849 de aves
(188 endêmicas); 2.120 de borboletas (948 endêmicas). Foram encontradas, ainda,
458 espécies lenhosas, um recorde mundial. O sistema cabruca é tão expressivo
que a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do
Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento (MAPA), o adotou como
modelo de produção, sistematizado no Projeto Barro Preto de Conservação
Produtiva. O modelo Conservação Produtiva é o resultado de um conjunto de ações
de baixo impacto ambiental, que prevê, inclusive, o georreferenciamento de
todas as espécies arbóreas que compõem a plantação, além de ações que garantam
os três aspectos basilares da sustentabilidade no meio rural: o ambiental, o
social e o econômico. Esse foi o modelo apresentado pela Ceplac na Rio+20, a
Conferência da ONU para a Sustentabilidade. O modelo cabruca, o modo
tradicional baiano de cultivo do cacau, foi a única forma de produção citada
como uma das 10 premissas (ver anexo) para a garantia da sustentabilidade na
produção de alimentos, no documento do governo brasileiro entregue à ONU como
contribuição da agricultura nacional para a sustentabilidade do planeta. Portanto,
no momento em que avançamos com a Conservação Produtiva – que nada mais é do
que a sistematização do nosso modo tradicional, cultural e intrínseco do sul da
Bahia, de plantar cacau –, essa informação de que o cacau do Brasil desmata a
floresta é uma afirmação infeliz, pelo menos no que diz respeito ao recorte
Bahia. A relação é exatamente a contrária: quando o cacau perde força e espaço,
crescem as culturas que exigem derruba total da mata. Essa foi a realidade
constatada pelos principais chocolateiros do mundo quando da realização do
Salon du Chocolat na Bahia, ano passado. Fica o convite para que todos –
baianos, brasileiros e povos do mundo – venham ao sul da Bahia conhecer um modelo
singular de produzir e conservar, gerando divisas, empregos e inúmeros ativos
ambientais. Sim, a proposta da Conservação Produtiva diz respeito ao mundo econômico
também. Mas isso é outra parte dessa rica história. Viva o cacau da Bahia! (Juvenal
Maynart Cunha é Superintendente Regional da Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira na Bahia).
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