Nesta manhã - Danilo Diógenes
Nesta manhã
a porta está aberta
pra que o poema entre
trôpego, asmático
Está aberta
e é melhor fechá-la
cobrir o rosto
lá fora
em algum lugar da cidade
estalos de bala
revogam
meu instinto predatório
Na tevê
os pés do boxeador
ensinam o verdadeiro drama
que há na dança
É melhor aprender
como tenho aprendido
Mas o aprendizado
me constrange, o mundo
que aprendo
me constrange
Meus olhos abertos
longos e fortes como correntes
de aço
- há coisas que enlaçaram
de que não me quero lembrar:
flores do campo de Auschwitz
meninos da Candelária
tudo, todos estão aqui dentro
é melhor fechar a porta mas não a fecho
pela fresta, entra o rosto de Maria
Todo homem
toda mulher é uma estrela
Maria
quando era uma
estrela
era três
(Elis, Carol
Thaís)
mas deixou de ser estrela
caiu no chão
anil
tornou-se una
rara
frágil
como laço de gravata borboleta
tornou-se
una
Maria soluçou seus nomes
na sarjeta
eu vi
sua brincadeira de roda
de pular corda, amarelinha
no asfalto rabiscado com pedras de cimento e giz
Danilo Diógenes nasceu em Cavalcanti, no Rio de Janeiro.
Passou grande parte de sua infância enclausurado em casa lendo. Em sua casa só
tinha livros de Camões, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa. Logo depois se
tornou especialista em António Ramos Rosa. Começou a escrever novo, mas já
mostrando grande talento. Danilo acaba de publicar seu primeiro livro 'Começar'
pela editora MultiFoco
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente no blog do Val Cabral.