À margem da consciência e sem identidade cultural, a mais recente geração de itabunenses não se interessa por arte, educação e cultura, habitando plena e exclusivamente o presente e seus modismos globalizados, em conformidade com valores considerados como superiores e banalizados modelos de comportamento ofertados pela sociedade. Como na vida nem sempre temos capacidade de escolher livremente nossa via, esse nativo, indiferente à autonomia e à independência, absorveu o bombardeado manipulador da mídia que glorifica o descartável: politicagens de grupos fraudulentos que iludem o povo, crimes ligados ao tráfico de drogas e trágicos acidentes de trânsito que só interessam aos envolvidos e seus familiares. É lamentável. Sem história, sem memória, sem incentivo aos seus artistas, vive-se em Itabuna num universo impessoal, vazio e sombrio. Talvez seja uma maldição perpetuada pelas vítimas dos tiranos coronéis do cacau. Além disso, o nome da cidade é derivado dos termos em tupi, ita (pedra), aba (imediações, arredores) e una (preta), significando "lugar de pedra(s) preta(s)", ou seja, desta origem poética chegamos ao reinado do crack, da “pedra”, que por sinal é preta. Assim, aos 101 anos, seus habitantes estão reféns de toscos shows musicais, escravos de abomináveis festanças de feiosas camisas sintéticas, figurantes de bares baratos e de um inócuo shopping center como opção de lazer. Não é à toa que o poeta Telmo Padilha intitulou um dos seus livros como “Canto de Amor e Ódio a Itabuna”. Fica evidente que o itabunense não sabe que através da arte temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam uma sociedade, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. A arte, como uma linguagem dos sentidos, transmite significados que não podem ser conduzidos através de nenhum outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e científica. Não podemos entender a cultura de uma cidade sem conhecer sua arte. Sem conhecer a arte de uma sociedade, só podemos ter conhecimento parcial de sua cultura. Aqueles que estão engajados na tarefa vital de fundar a identificação cultural, não podem alcançar um resultado significativo sem o conhecimento da arte local. Através da poesia, dos gestos, da imagem, a arte fala aquilo que a história, a sociologia, a antropologia etc., não podem dizer porque elas usam um outro tipo de linguagem, a discursiva, a científica, que sozinhas não são capazes de decodificar nuances culturais. A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento. Através da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual pertence. Em Itabuna, cujo nome mais famoso - o escritor Jorge Amado - foi praticamente esquecido, aclama-se empresários mercenários que nunca investiram em um Centro de Convenções, um museu ou um teatro equipado; ou se aplaude políticos seduzidos pelas benesses do poder que dão cargos a pedófilos e picaretas. Cinema não existe, tampouco programas de rádio e tevê que abordem o folclore, história e ecologia. O Rio Cachoeira é uma paisagem fétida, melancólica, e a sacrificada Mata Alântica não tem qualquer significância local. Felizmente existem algumas ilhas de beleza: as editoras Editus e Via Litterarum; o trabalho musical de Mariangela Montalvão e Indira Vita Pessoa na Escola Clave de Sol; a Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC); a TV Itabuna, de Barbosa Filho; o blog Artistas de Itabuna e o caderno “Banda B”, do jornal Agora, editado com envergadura e sem favoritismos por Luana Rodrigues. Não sou nostálgico, mas faz falta o tempo de Ritinha e Ubaldo Dantas, a Sociedade Itabunense de Cultura (SIC), o Protejo de Atividades Culturais Cacau (PACCE), o Cacau/Letras e projetos renovadores de artistas como Mário Gusmão e Jurema Penna. Contribuindo com a questionável celebração destes 101 anos, listei 12 mulheres e 12 homens que merecem ser homenageados. São itabunenses atuantes que nos fazem crer que ainda resta alguma esperança. Gente que sempre procurou viver intensamente, plenamente. Pois é justamente quando tantas coisas vão mal em torno de nós que é necessário falar da beleza das ações humanas.
ANTONIO LOPES (Escritor e Jornalista): Autor do divertido e crítico “Estória de Facão e Chuva – 35 Crônicas e 2 Louvações”, introspectivo, discreto e de grande inteligência, escreve prosa contundente. Sua longa atuação jornalística, ímpar e ética, é um marco que deve ser seguido pelos mais jovens.
ARI RODRIGUES (Produtor Cultural): Incansável, esse profissional faz a diferença. Depois de longos anos na capital, coordenando a produção de elenco de diversos filmes – entre eles, “Palavra e Utopia”, do português Manoel de Oliveira – voltou a sua terra, produzindo festivais de teatro, shows, peças, vídeos e campanhas publicitárias. Edita o jornal on-line “Itabuna – Arte e Cultura”.
BETHÂNIA MACEDO (Colunista Social e Empresária): Alegre, charmosa e de visível simpatia, pouco a pouco conquistou o seu merecido espaço, tornando-se uma das mais valorizadas colunistas sociais de Itabuna. Hoje ninguém mais leva a sério a arrogância mesquinha e temperamental de alguns antigos colunistas, aplaudindo a suavidade e educação da formosa Beta.
CARLOS BETÃO (Ator): Intérprete por temperamento e boa gente por convicção, é um dos melhores atores da nossa história recente. Depois de abrilhantar a ribalta grapiúna nos anos 80, deixando saudades do seu vozeirão e presença carismática, partiu para Salvador, onde faz teatro, cinema e tevê. Participou de montagens de repercussão na cena cultural como “Os Iks” e “O Sonho”.
CLÁUDIA DÓRIA (Bailarina e Professora de Dança): De família de artistas, fundadora da Academia de Tchu & Cia, destaca-se com sofisticados e criativos espetáculos de dança, inspirados em suas descobertas no estrangeiro. Elegante e refinada, detalhista e dedicada, traduz como poucos o melhor da dança grapiúna.
CONCEIÇÃO PORTELA (Artista Plástica): Tímida, intuitiva e avessa a falar muito, cumpre sua tarefa transformando sonhos em cor, com uma riqueza extraordinária e linguagem pictórica peculiar. Sua obra é sedutora, de uma sedução cristalina e candente, acolhedora, voltada para a gratificação mais pura dos sentidos. Recentemente destacou-se com a exposição “Duendes do Cacau”.
CYRO DE MATTOS (Escritor, Poeta e Advogado): Desconfiado e de temperamento difícil, advogado e escritor versátil, ele transita por vários gêneros literários. Premiado, teve seus livros publicados em diversos idiomas. Autor do já clássico “Vinte Poemas do Rio”, atualmente dirige com eficiência a Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (FICC).
DIOGO CALDAS (Colunista Social): Na imprensa grapiúna desde os anos 60, ativo e bem humorado, elegante e crítico, também é conhecido como Flavius. Uma das personalidades mais estimadas de Itabuna, assina coluna semanal no jornal A Região.
EDUARDO ANUNCIAÇÃO (Colunista Político): Figura de praxe do jornalismo político, reconhecido por sua renovadora atividade artística na juventude, hoje assina uma das colunas mais lidas na região do cacau, no Diário Bahia. Batalhador e memória viva da história itabunense, peca por seguir a cartilha ingrata do deputado Geraldo Simões, mas para sobreviver muitas vezes precisamos engolir um ou outro sapo.
EVA LIMA (Atriz e Produtora Cultural): Impulsiva, sem papas na língua e incrivelmente talentosa, sua veia artística fez dela a maior estrela da ribalta grapiúna, superando inclusive a saudosa e lendária Candinha Dória. Após fértil temporada na cena artística da capital, retornou à terrinha, reinventando-se como produtora capaz e atuante.
GENNY XAVIER (Poeta e Professora de Literatura): Exilada em seu mundo interior, sem a vaidade da fama literária ou a gulodice da futilidade social, exerce com inteligência modesto cargo público. Notívaga, de pavio curto, redige prosa e verso com extraordinária sensibilidade, mas por incrível que pareça continua inédita, sem qualquer livro publicado. Possivelmente esperam celebrar seu talento luminoso após sua morte.
HÉLIO PÓLVORA (Escritor e Jornalista): Solitário e irônico, crítico literário no Jornal do Brasil, Veja e Correio Brasiliense, entre outras publicações, é um maiores escritores da Bahia. Co-fundador do jornal A Região e do literário Cacau/Letras, ex-presidente da Fundação Cultural de Ilhéus, publicou dezenas de livros, destacando-se no conto, com exemplares de beleza rara como “O Grito da Perdiz” e “Xerazade”.
JACKYSON COSTA (Ator): Não se tornou uma estrela nacional, mas com persistência e talento construiu uma carreira teatral que já é referência. Fez muito sucesso como Deus na peça “Vixe Maria, Deus e o Diabo na Bahia!” e suas participações especiais em telenovelas ou minisséries globais deixaram marcas positivas. Conhecido por sua fidelidade à terra natal, por diversas vezes exaltou poetas, músicos e atores da região cacaueira.
KLEBER TORRES (Jornalista e Poeta): Amável, inteligente, íntegro e respeitado, jornalista ligado ao grupo do jornal Agora, é também poeta inovador, de afinidades concretistas.
MARIA DE LURDES NETTO SIMÕES (Professora de Letras e Turismo): Conhecida pelos mais íntimos como “Tica”, com importante atuação no Departamento de Letras e Artes da Uesc, resgatou a poesia inédita de Valdelice Pinheiro e publicou jovens poetas em antologias que fizeram história.
MIRALVA MOITINHO (Educadora e Política): De espírito forte e fulgurante, superou armadilhas, levando adiante sua missão educadora e política. Não tem carisma para captar votos, mas é líder nata. Atada a um grupo político que a boicota nos bastidores, gostando ou não de sua personalidade dominadora, não há como negar sua importância para a educação itabunense.
MARIA FERNANDA GALVÃO (Apresentadora de TV): De beleza reverenciada e filha de família tradicional, ela nunca se acomodou no perfil da dondoca típica, destacando-se como mulher de personalidade influente e competência laboral. Rainha das passarelas nos desfiles de moda, inteligente e agradável, não se deixou ser devorada pelas más línguas invejosas e atualmente apresenta com seriedade o “Hoje em Foco”, um programa diário na TV Itabuna.
MARIA ANTONIETA (Jornalista): Tem colunista que se faz de bonzinho, especializando-se em notas cordiais. Esses são os piores, pois mascaram a ambição e o recalque. Tonet jamais precisou desta artimanha que engana aos tolos de plantão. Inteligente, antenada, de caráter vigoroso, polêmica, nunca se deu por vencida, lutando como guerreira por seu espaço no jornalismo grapiúna. Infelizmente oculta uma faceta preciosa: sua veia poética de excelente qualidade. Além disso, já é hora de escrever sua biografia.
PILIGRA (Filósofo e Poeta): Inquieto e distante de panelinhas literárias, planeja e realiza uma obra intelectual erudita e necessária. Usando permanentemente um original chapéu, elevou seu universo particular à poesia de impacto e permanência evidente.
RAMIRO AQUINO (Jornalista): Jornalista popular, afável e irônico, desliza sem se comprometer entre políticos e intrigas palacianas. Radialista, comentarista esportivo e competente mestre de cerimônias, tem o seu nome ligado aos mais importantes acontecimentos sociais e políticos de Tabocas City.
RUY PÓVOAS (Professor, Escritor e Poeta): Talvez ele não calcule o benefício realizado enquanto professor. Mestre intelectual de toda uma geração, brilhante e reservado, recusou cargos políticos e honrarias oportunistas, aliando funções de Babalorixá, difundidor da cultura afro-brasileira, poeta e prosador elogiado.
SONIA COUTINHO (Escritora): Ela literalmente abandonou Itabuna. Não pode nem ouvir falar da sua cidade natal. Nela, foi perseguida e criticada. Sua belíssima casa na Rui Barbosa está em ruínas, sem ao menos uma placa anunciando que a escritora nasceu ali, como acontece em cidades civilizadas. Uma das maiores e mais premiadas escritoras brasileiras, publicou títulos expressivos como “Atire em Sofia” e “O Jogo do Ifá”.
VALDIRENE BORGES (Artista Plástica): Pintora que seduz pelas cores luminosas e traços ingênuos de sua arte. Afetuosa e discreta, já realizou exposições coletivas e individuais em vários estados. Da geração de Renart e Alceu Pólvora, não se rende jamais, marcando presença há algumas décadas com uma pintura sólida e bucólica.
ZÉLIA POSSIDÔNIO (Professora e Poeta): Professora, atriz, poeta, diretora teatral e coordenadora da Biblioteca Valdelice Soares Pinheiro/CAIC-Jorge Amado, ela se agiganta por seu fervor artístico, seriedade profissional e valorização da arte grapiúna.
(ANTONIO NAHUD JÚNIOR - Acesse o meu blog: www.ofalcaomaltes.blogspot.com).
Lamento que Itabuna não tenha aberto espaço para essa figura simpática e útil, principalmente, para as artes, a cultura e a comunicação.
ResponderExcluirVc faz uma falta enorme. Mas desejo-lhe muito sucesso e que sua estrela esteja sempre brilhando.
É ISSO ITABUNA, PARABÉNS PARA VC E QUE VC CONTINUE ESSA CIDADE MARAVILHOSA E HIPER LEGAL. Márcio Tavares
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