O governador do Rio Grande do Sul e um dos principais formuladores do PT, Tarso Genro, reclamou ontem dos mensageiros. Refletiu sobre o pouco prestígio dos políticos: "É visível que existe, em grande parte da mídia, também uma campanha contra a política e os políticos, o que, no fundo, é, independentemente do objetivo de alguns jornalistas, também uma campanha contra a democracia". Tarso escolheu um momento ruim para expressar seu pensamento. No fim de semana, tornou-se público um vídeo no qual a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) aparece recebendo um maço de dinheiro das mãos do delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa. A cena não é inédita na política, embora continue a ser chocante. É fascinante que esse vídeo tenha nascido no mesmo covil de outros conhecidos há mais de um ano. Mas só surgiu agora, quando Jaqueline Roriz já está eleita. Deputados mudaram as regras de decoro não faz muito tempo. Ninguém pode ser cassado por crimes cometidos antes da eleição. Eis aí a sutileza: matou alguém, assaltou ou recebeu dinheiro sujo antes da eleição? Sem problemas. Por fim, o corregedor da Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), está em viagem de férias no exterior. Volta dia 13. A prática de "emendar um feriado" é levada ao paroxismo no Congresso. Até lá, Fonte acompanhará o episódio. Nada mais. Nesses escândalos políticos em Brasília, o roteiro é sempre igual. A pressa é inimiga da prescrição. Tudo é acomodado para que o tempo passe, nada seja apurado de fato e ninguém acabe punido. Quando se trata de um político do baixo clero, como é o caso de Jaqueline Roriz, a operação é facilitada. Diferentemente do que afirma Tarso Genro, quem faz "campanha contra a democracia" não é a mídia, mas os políticos, protagonistas desse enredo cujo objetivo tem sido apenas a banalização do mal.
Tenho, no entanto, as minhas dúvidas em relação ao caráter “moderno” da falta de piedade. Não creio que seja uma inovação da sociedade de massas. Um olhar sobre a antropologia poderia ser útil nesta reflexão. Isto é, não sei se as sociedades primitivas ou pré-urbanas (que ainda hoje existem, algumas delas) são moralmente mais recomendáveis… Não digo que as sociedades modernas não tenham dilemas éticos terríveis para resolver, claro que têm, mas há que ver as coisas em perspectiva. O mito do bom selvagem não passa disso, de um mito.
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