O objetivo desta crônica anexa é registrar fatos históricos que ocorreram com o bairro São Caetano, um dos melhores bairros de Itabuna, quiçá, o mais promissor, e, resgatar o nome de José Batista Caetano, o seu fundador, que os nossos historiadores não registram, mas certo Dr. Abílio Caetano de Almeida, proprietário dessas terras do lado de cá do Rio Cachoeira. Informações fidedignas de um velho morador, que aqui reside e negocia desde 1948, o Sr. Pedro Batista de Santana (Pedro do Bar), é que José Batista Caetano foi quem vendeu os primeiros lotes (aforados), depois os seus herdeiros Peó e Zezinho, além de sustentarem um longo litígio dessas terras com Dr. Durval Guedes de Pinho, que legalmente, se tornou, muitos anos mais tarde, o proprietário delas.
Nos idos de 1947, o bairro São Caetano era um aglomerado de poucas casas espalhadas, cercadas por roças de cacau, roças de mandioca, bananeiras, jaqueiras, canaviais, frutas em abundância, muita mata e uma fauna maravilhosa. Sua gente era de trabalhadores rurais, pequenos cacauicultores, pescadores, caçadores, oleiros, carpinteiros, marceneiros, lavadeiras, parteiras, benzedeiras, pedreiros, açougueiros e alguns minguados bodegueiros. A vida no povoado corria sem novidade, monótona, lazer só para os machos, à noite, nas casas das caftinas Helvécia e Rosa, ou, algum bate-coxa de final de semana em cabaré fétido, quando dois sujeitos roubaram umas bolas de fumo de algum armazém da iniciante Itabuna, e, numa canoa (a ponte Lacerda estava em construção), atravessaram as água limpas e caudalosas do rio Cachoeira e vieram ao povoado passar as bolas de fumo ao atravessador. Os elementos, ladrões chinfrins, foram presos, logo depois, com o atravessador, o bodegueiro Permínio, que tinha uma bodega no início, hoje, da avenida princesa Isabel. Naquela época, não havia Direitos Humanos nem humanos direitos, advogado era luxo, coisa de gente rica, os pobres diabos devem ter levado uma boa surra de cipó- de-boi ou foram corrigidos com palmatória de jacarandá e soltos. Porém, o imbróglio do roubo das bolas de fumo, serviu para despertar o sentimento bairrista dos parcos moradores contra os deboches e desdéns dos citadinos que passaram chamar o seu lugarejo de “Fuminho”. Se alguém do outro lado do rio Cachoeira se atrevesse chamar o São Caetano de “Fuminho” ao habitante do lado de cá, poderia não dar briga, mas a reação e o repúdio eram imediatos de menino ao velho. No entanto, não foi a primeira nem a última vez que o bairro São Caetano foi ameaçado do seu nome ser substituído. Com o assassinato do presidente dos E U A, John F. Kennedy, em 22 de Novembro de 1963, os bajuladores dos ianques espalhados em todo mundo, deram o seu nome, in memoriam, aos bairros, ruas, praças, jardins etc. Nós, de terras tupiniquins, das terras do sem fim, não fugimos à regra. O vereador Antônio Calazans, velha raposa política, quis pegar o bonde da História e elaborou um anteprojeto de lei que mudava o nome de São Caetano para bairro presidente John Kennedy. A reação dos líderes comunitários Pedro Batista de Santana (Pedro do Bar), Eduardo Fonseca e o povo, foi enfurecida, irrefreável, movimentos de protestos pipocaram nos quatro cantos do bairro. Os reclames do povo e dos líderes comunitários chegaram ao prefeito, o Sr. José de Almeida Alcântara (apelidado carinhosamente pela meninada de “Arranca”, derivativo deformado de Alcântara), mestre da demagogia e da encenação. Ele foi sensível e oportunista aos protestos e reclames da comunidade caetanense, prometeu aos líderes e à comunidade, negociar com os vereadores, vetar o projeto, tirou proveito político o quanto pode... Os vereadores Calazans e Antônio Côrtes (relator da matéria), insistiam em submeter o projeto à assembléia para votação final, estavam irredutíveis, queriam a qualquer custo americanizar o bairro, trocando “São Caetano” por “John Kennedy”, a data da votação foi definida, parecia que os caetanenses estavam na casa do sem jeito, num beco sem saída, teriam mesmo que embolar a língua e pronunciar: - John Kennedy!... O dia D chegou. Os vereadores estavam convencidos da aprovação fácil do seu projeto, pouco se lixando para população, quando o prédio da Câmara de Vereadores (atual prédio da 27ª. Zona Eleitoral), a Praça Olinto Leone e as ruas circunvizinhas, foram tomadas de assalto por milhares de populares, moradores do bairro São Caetano e doutros bairros, gritando palavras de ordem, discursos, carro-de-som, faixas, cartazes, apitos, numa demonstração de cidadania e civismo nunca visto. Calazans acuado, sem respaldo popular, sem apoio político das autoridades da cidade (exceto seus pares), numa saída de mestre, esvaziou o plenário da Câmara, suspendeu o projeto por falta de quorum, articulou com os líderes do bairro uma nova proposta: não mudar o nome do bairro, mas manter a homenagem ao presidente americano, dando-lhe o seu nome à principal avenida, por muito tempo, o São Caetano teve sua “Avenida Kennedy”, mas graça ao sentimento patriótico das novas gerações, a posteriori, foi batizada com o nome de gente nossa: - Avenida Manoel Chaves!... Portanto, “São Caetano” continuou “São Caetano”, nome de santo da Igreja Católica e justa homenagem foi feita ao lavrador José Batista Caetano, o fundador do bairro São Caetano. (Rilvan Batista de Santana).
Parabenizo o professor Rilvan por seu blog e por ele está fomentando a cultura. É de mais gente assim que estamos necessitando.
ResponderExcluirJoselito Brito
Aqui cheguei em 1955, conheci vários personagens do São Caetano, Pedro do Bar, Fonsequinha etc. Mas, desde aquele tempo, se dizia fundador do bairro, o negro POTOMIANO e um irmão deste. Ambos eram estabelecidos como vendedores de fumo de corda e havia uma desinteligencia entre os moradores da Mangabinha e do São Caetano, surgindo pejorativamente o apelido de FUMINHO, PORQUE SÓ ALI SE ACHAVA FUMO DE CORDA DE QUALIDADE.Daí, no meu poema musicado, "VERDADE GRAPIÚNA" FIZ MENSÃO AO FUNDADOR, Potomiano.Romilton Teles@bol.com.br
ResponderExcluirCaro Romilton:
ResponderExcluirO seu comentário tem um pouco de verdade, porém, Potomiano e Zezinho eram filhos do agricultor José Batista Caetano, o fundador. A "historinha" do roubo do fumo é verídica, segundo o octogenário Pedro Batista de Santana (meu tio), que graça a Deus, está vivo e goza de boa saúde e mora e negocia anexo à Casa Lotérica do São Caetano. Um abraço,
P.S.: Peço-lhe que visite o meu blog: http;//saber-literario.blogspot.com
Sei que o senhor é poeta e compositor, gostaria de publicar os seus trabalhos, pois o nosso blog é literário e publicar gente da terra é o meu desejo,
Val, esta crônica resgata o passado de um dos nossos bairros, parabéns ao prof. Rilvan Santana pela pesquisa. Acho que o ex-delegado Romilton equivocou-se, a história é de 1947, ele chegou a Itabuna em 1955.
ResponderExcluirMário Santos