O livre-arbítrio e o determinismo sempre mexeram com a cabeça dos pensadores. Hoje, ganha fôlego o princípio filosófico do livre-arbítrio, pelo menos para explicar as ações humanas e o maniqueísmo filosófico do bom e do mal, ou seja, o homem, animal racional, possui o livre-arbítrio de escolher Deus ou o Diabo, o certo ou o errado. Às vezes, o determinismo ganha mais força para justificar o inexplicável, principalmente, junto ao homem simples, é comum alguém dizer: “...foi o destino, Deus quis assim...”, isto é, como se tudo tivesse predeterminado, decerto, é a maneira do homem simples racionalizar o imprevisto. O determinismo é a teoria do fatalismo, mecanicista, as coisas não acontecem por acaso, tudo tem uma razão a priori de ser, veja o exemplo do que ocorre com as castas sociais hindus, elas são predeterminadas, um pária (casta inferior) não tem o direito de aspirar sua ascensão social ou religiosa, pois lhe é negado desde o nascimento esse direito pela sociedade e pelo sistema religioso brâmane. Há dois ou três anos, quando me debrucei para estudar a biografia do escritor Machado de Assis, surpreendi-me como alguém que nasce de pai pintor de parede, mãe lavadeira, pais paupérrimos e sem instrução, torna-se um dos maiores escritores do país. Sua mãe o deixa por morte ainda menino, ele consegue transpor tantas dificuldades e tornar-se romancista, contista, jornalista dramaturgo, teatrólogo, cronista e funcionário graduado de alguns Ministérios brasileiros, além de ser o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras – ABL. A história de Machado e tantas outras histórias de vidas que parecem predestinadas, me fez compreender, que ambos os princípios, o determinista e o livre-arbítrio, não respondem aos questionamentos mais profundos do ser humano. A História da Humanidade não pode ser reduzida à malícia da serpente, à fragilidade de Eva e à ingenuidade de Adão, que instigado por Eva, Adão usou o seu livre-arbítrio e comeu a fruta do conhecimento (mesmo ameaçado de morrer e expulsão do Éden) do bem e do mal, a fruta do pecado, a maçã, a fruta do amor... de lá pra cá, somos todos vítimas do pecado original, ou seja, nascemos com o estigma do determinismo do pecado original. Embasado nessas observações empíricas e nas diatribes aos princípios deterministas e do livre-arbítrio (determinantes do comportamento humano), é que sugiro aos meus leitores, o “princípio da possibilidade”, decerto, este princípio responderá às mais inexplicáveis questões sócio-ambientais, a reconceituação do bem e do mal, a sorte e o azar, exorciza o destino predestinado e diminui a força do livre-arbítrio e foi sistematizado em possibilidades:
a) Necessárias;
b) Contingenciais;
c) Reais.
Entendo que a “possibilidade necessária” é a que se impõe por si, não deixa de ser, verdade absoluta. Deus é uma possibilidade essencial, existe por si, mesmo que alguém o negue, o reconhece como idéia lógica que subsiste por si. A “possibilidade necessária” está na categoria kantiana dos “conceitos puros e fundamentais à unidade dos juízos”. A “possibilidade contingencial” é de natureza absurda, contingente, que fere as leis da razão e do bom-senso cartesiano - não confundir este princípio com a filosofia existencialista de Kierkegaard, Camus, que questionam os conflitos existenciais do homem com Deus, a morte, enfim, com sua essência. A “possibilidade contingencial” responde às coisas mais imediatas, aos fatos do dia-a-dia, de natureza improvável, não transcendental, não filosófica, não lógica, não determinista, mas de possibilidades existentes e reais. É uma temeridade leitor, citar exemplos aleatórios, porém, em nome do entendimento, eis aí três exemplos que desafiam à razão: -Alguém diz que nunca morrerá de acidente de avião porque jamais o usará como meio de transporte, porém, um dia lhe cai o avião sobre sua casa e o mata. -Alguém que não sabe nadar diz que nunca morrerá afogado porque jamais entrará num barco, numa canoa, num navio ou tomará banho em lagoa, rio ou mar, mas a natureza revoltada despeja chuvas torrenciais e afogam-no e submerge sua casa em tempo recorde... -Alguém de natureza cordata, eticamente correto, caseiro, do trabalho pra casa, da casa para o trabalho, que não é de briga, família, um dia é vítima fatal de uma bala perdida de um confronto de bandidos ou um confronto de polícia e bandido. As pessoas comuns atribuirão a esses fatos inexplicáveis ao destino, à predestinação, os mais místicos, às explicações espirituais, todavia, tudo não passa do “mundo das possibilidades”, mesmo remotíssimas, do meio que estamos inseridos, nós somos as nossas circunstâncias... A “possibilidade real” é quando as condições são reais, as possibilidades sócio-ambientais confluem para um determinado fim, elas dependem, somente, da vontade, do livre-arbítrio do indivíduo, da sua escolha a priori, do seu foco. O filho de um pesquisador, de um cientista, por exemplo, pode ser influenciado pelo meio familiar e seguir o pai profissionalmente, todavia, ele poderá seguir uma profissão não correlata, de acordo às suas convicções de foro íntimo. O provérbio popular que “não existe sorte nem azar, tudo depende do modo de agir”, é um aforismo reducionista do princípio do livre-arbítrio, como se tudo fosse produto da vontade, do que “eu posso”, “eu quero”, que em condições reais, é provável, mas, longe de explicar aquilo que pode ou não pode acontecer, a exemplo das “possibilidades contingenciais”. Espero que esse princípio teórico das “possibilidades”, responda aos questionamentos do homem, que ele não atribua ao destino ou à categoria de fenômenos providenciais o que ocorre independente de sua vontade, mas ao “mundo das possibilidades” que todos nós estamos inseridos. (Rilvan Batista de Santana – saber-literário)
Val, você está de parabéns pela publicação deste texto e outros bons textos. Eu já tinha lido este texto do nosso amigo prof. Rilvan,mas reli novamente, este trabalho do professor é de seu Ensaio: "O homem nasce para ser feliz?...", ele responde às questões existenciais. Um abraço, João Pedro
ResponderExcluirEste artigo requer uma reflexão!
ResponderExcluirO PROFESSOR RILVAN É UMA PERSONALIDADE DIGNA DE MERECER NOSSOS APLAUSOS, POR SUA EXTRAORDINÁRIA CAPACIDADE DE EXPRESSAR FACILMENTE TEMAS INTERESSANTÍSSIMOS E QUE PRENDEM A ATENÇÃO DE QUEM GOSTA DE UMA BOA LEITURA.
ResponderExcluirPARABENIZO VC VAL CABRAL, POR ESTAR SEMPRE POSTANDO OBRAS DESTA PESSOA MARAVILHOSA QUE É O PROFESSOR RILVAN
Nota MIL para mais esta postagem.
ResponderExcluirNunes
RILVAN SANTANA JÁ ESTÁ SE TORNANDO UMA ÓTIMA REFERÊNCIA DE LITERATURA REGIONAL.
ResponderExcluirESTE FATO DEVE ENCHER DE ORGULHO O POVO SULBAIANO.
UMA REGIÃO QUE TEM FILHOS DO NÍVEL CULTURAL DE JORGE AMADO, ADONIAS FILHO, TELMO PADILHA, CYRO DE MATOS... NÃO PODERIA DE CONTAR COM NOMES COMO O DO RILVAN BATISTA SANTANA E BLOGS COMO ESTE SEU E O PRÓPRIO SABER LITERÁRIO.
ANTONIO MARCOS CONRADO DE LIMA
Filosofia profunda esta página Val Cabral. Sempre fiquei com bronca nessa questão de "destino" e "determinismos", mas esse texto do professor Rilvan coloca a coisa bem definida.
ResponderExcluirVal, não sei quem é esse professor, mas, o seu artigo é mais uma dessas "bobagens" filosóficas que esses pseudos pensadores dão uma de dono da verdade. Li até a metade, não vou me dar o trabalho de ler essa cultura inútil!...
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