CRISE EM HOSPITAIS SOBRECARREGA PESSOAL DO SAMU

Devido à dificuldade de acesso ao serviço de saúde em postos, hospitais públicos e também particulares da capital, a população – principalmente a mais carente – acaba recorrendo ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), o que acarreta outros problemas. De acordo com o coordenador de operações, Jorge Augusto Serra, a demora no socorro a vítimas de acidentes e outras situações de maior gravidade, muitas vezes se deve à sobrecarga dos casos clínicos, que representam 80% dos chamados. O SAMU atende, prioritariamente, pessoas em risco de vida ou em situação de ameaça a integridade física, que são os agravos agudos, mas, na prática o caso é mais complexo do que parece. “Os atendimentos mais comuns são de pessoas com dificuldades de respirar, dores abdominais, convulsão, pressão alta e dor no peito, sinais que podem indicar um infarto, por exemplo, mas, que poderia ter sido evitado, se existisse eficácia na atenção básica de saúde”, reforça Serra. Os socorristas realizam o atendimento pré-hospitalar e quando necessário conduzem o paciente a unidade de saúde mais indicada. Na maioria dos casos os pacientes são levados para o Hospital Geral do Estado (HGE). “Algumas pessoas questionam que o SAMU sobrecarrega o HGE, mas, nos levamos pacientes para todos os hospitais, o problema é que o HGE é o único com capacidade para atender casos de alta complexidade”, diz. Nas situações graves, como acidentes de trânsito, desabamentos de imóvel e tantas outras que necessitam de um pronto-atendimento de urgência, o SAMU leva até mais de uma hora para chegar ao local. “Além dos congestionamentos, os casos clínicos demandam muito da nossa equipe, o que acaba atrasando o atendimento de acidentes”, diz. Atualmente o SAMU conta com uma equipe de mais de 800 profissionais distribuídos em 14 bases descentralizadas, 41 ambulâncias, 24 motocicletas e duas lanchas. O serviço completou cinco anos, em julho passado e já ultrapassa os três milhões de atendimentos, em Salvador, Região Metropolitana (RMS) e nas ilhas que pertencem ao município. Diariamente os profissionais da central de atendimento 192 recebem cerca de 3 a 4 mil ligações, que geram cerca de 250 a 400 atendimentos/resgates. Só este ano, o serviço já contabilizou mais de 1,5 milhões de atendimentos. Os trotes são comuns e dificultam o trabalho destes profissionais. “Infelizmente mais de 40% das ligações são trotes ou pessoas em busca de informações, que não estão relacionadas com o serviço do SAMU”, conta o coordenador. Além de atender casos em Salvador, Lauro de Freitas, Vera Cruz, Candeias, Simões Filho, São Francisco do Conde, Madre de Deus e as Ilhas de Bom Jesus dos Passos, Ilhas dos Frades, Ilha de Maré – que pertencem a Salvador – e Mar Grande e Vera Cruz – que não pertencem a Salvador. SUBÚRBIO GERA A MAIOR PROCURA AOS SERVIÇOS - Três bases descentralizadas do SAMU atendem a Ilha de Itaparica e duas lanchas, atracadas em Salvador, são deslocadas para as demais ilhas, em caso de agravos agudos. No dia seguinte ao aniversário do SAMU, o ortopedista e coordenador de equipes especiais do serviço, Oswaldo Alves Bastos Neto, comandou um dos seus mais complexos resgates. O desabamento de um prédio, na Ladeira da Conceição da Praia, onde uma pessoa morreu e três ficaram feridas. Para retirar a última vítima, Elielson dos Santos, 40 anos, que estava preso por uma viga, teve que ter o seu antebraço esquerdo amputado. A vítima estava dependurada e de cabeça. “Não havia outra opção, se ele fosse puxado, o resto da estrutura poderia desabar em cima de todos”, lembra Neto. O resgate durou cerca de 24 horas. Subúrbio – Com cerca de 1,5 milhão de habitantes e apenas um hospital – o Hospital do Subúrbio – inaugurado recentemente, o subúrbio ferroviário de Salvador demanda, segundo Serra, grande parte dos atendimentos do SAMU. “O Hospital do Subúrbio ainda não está operando com toda a sua capacidade e a população desta região ainda carece de atendimento médico, o que acaba aumentando o número de chamados”, diz. (Roberta Cerqueira).