Num ano em que a política institucional na América Latina parecia tender para o conservadorismo, acaba de surgir uma grande supresa. Vem de onde menos se esperava: a Colômbia. Em rápida ascensão, o heterodoxo Antanas Mockus passou a ocupar o segundo posto, nas últimas pesquisas de intenção de voto, com 24,8% das preferências. O líder nas sondagens ainda é Juan Manuel dos Santos (29,5%), apoiado pelo presidente Alvaro Uribe. As eleições estão marcadas para 30 de maio, mas um segundo turno (em 20 de junho) parece cada vez mais provável. Mockus inaugurou em 1994 a importante tradição dos prefeitos reformadores em Bogotá, capital do país. Ela perdura até hoje. É de esquerda e inovadora. Consiste na adoção de programas distributivos de alto impacto (entre eles, excelentes escolas públicas em período integral e restaurantes populares); no estímulo à participação da sociedade civil na administração da cidade; num combate ao crime constante e central — que, no entanto, não se baseia principalmente em medidas repressivas. A disputa atual à Presidência começou há apenas duas semanas, e todas as avaliações são, portanto, provisórias. Mas a rápida ascensão de Mockus (que partiu de 10% de apoios e dobrou o índice) sugere uma interessante disputa de projetos. A Colômbia que o candidato expressa choca-se com um país devastado pela violência, paramilitares e narcortráfico. Os assassinatos encomendados (por disputas de terras, para eliminar ativistas políticos ou por criminalidade comum) tornaram-se banais. Provocaram 30 mil mortes nas três últimas décadas e geraram um recorde mundial de deslocamentos internos. Três milhões de colombianos deixaram suas casas ou pequenas propriedades, no período. No poder há oito anos, o presidente Uribe conseguiu mobilizar em seu favor o medo da sociedade, e difundir a idéia de que a “mão dura” é a única arma eficaz contra o crime. Sua estratégia é facilitada pela ação das FARC. Elas não são as principais responsáveis pela violência, mas permitem ao poder e à mídia argumentar que também a esquerda é uma ameaça à sociedade. Altamente popular, Uribe tentou um terceiro mandato, por meio de plebiscito. A Corte Constitucional barrou este intento, em fevereiro. Abriu-se então uma campanha eleitoral de curtíssimo prazo, cujos contornos parecem se definir agora. O Polo Democrático, força de esquerda mais visível (e à frente da prefeitura de Bogotá), não conseguiu até o momento projetar seu candidato — o senador Gustavo Petro, um líder da luta contra os paramilitares. Frente de múltiplas tendências, muitas vezes paralisada pela disputa entre elas, o Polo tem enorme dificuldade para apresentar ao eleitorado uma face clara. Em ocasiões decisivas, as divergências internas o impedem de tomar posição. Talvez por isso, três dos prefeitos que viveram a experiência democrática de Bogotá — Antanas Mockus, Luís Eduardo (“Lucho”) Garzón e Enrique Peñalosa — transferiram-se, há poucos meses, para o Partido Verde. Em 11 de março, participaram de uma prévia, vencida pelo primeiro. No início de abril, Mockus conseguiu atrair, para vice-presidente em sua chapa, Sérgio Fajardo, também ex-prefeito de uma grande cidade (Medellin), igualmente envolvido em fortes iniciativas de participação popular. A dobradinha decolou, sugerindo que parte importante da população quer mudanças — e prefere, entre os candidatos que a representam, quem demonstra capacidade de administrar e tomar decisões. Filósofo, antigo reitor da Universidade de Bogotá, de origem lituana e aparência nórdica, Antanas Mockus é, entre os ex-prefeitos de Bogotá, o que melhor expressa heterodoxia também do ponto de vista pessoal. Maneja o marketing político com habilidade desconcertante. Para reduzir a violência, instituiu limites ao consumo de álcool e batizou a medida de hora-zanahoria (hora-cenoura), tomando emprestada uma gíria usada para qualificar indivíduos conservadores (seria a “hora-café-com-leite, no Brasil). Colocou palhaços nas ruas, para zombar dos motoristas que dirigiam de maneira incivilizada. Distribuiu entre a população cartões vermelhos e brancos com os quais se expressava facilmente desapreço por atitudes anti-sociais, ou apoio à solidariedade. Foram, porém, apenas a face mais visível de uma administração que instituiu conselhos populares, restringiu a circulação de veículos particulares, revolucionou o transporte coletivo, espalhou ciclovias e parques. Mockus trabalhou como consultor em diversas cidades brasileiras. Impressionada com a redução da violência em Bogotá ao longo da experiência democrática (de 80 mortos por 100 mil habitantes para 18/100.000 ao ano), a mídia conservadora tentou mais de uma vez arrancar dele declarações em favor de brutalidade contra o crime. Numa destas tentativas, respondeu a Época: [Em nossa experiência] “o que realmente contou foi uma campanha de valorização da vida. A idéia central é que a vida é insubstituível. (…) Fizemos uma campanha de conscientização e uma agenda diária para discutir como proteger e preservar a vida até que isso fosse incorporado à cultura da sociedade”.
É a reedição da Heloisa Helena e do Cristóvam Buarque.
ResponderExcluirParticipará dos programas e debates políticos só para desancar o Governo Lula, com a autoridade de “ex-petista” arrependida.
Jamais polemizará com os tucanos.
Um monte de direitista dirá que votaria nela mas como o partido dela é pequeno então votará em Serra. É como se dizendo isso, a consciência ficasse um pouco mais leve.
E no final… Dona Marina será jogada no lixo como um bagaço de laranja chupada.
Jeremias Bueno
Marina, assim como Heloísa Helena e Cristovam Buarque estão certos em se colocarem como opção a esta esquerda que está no poder macomunada com as oligarquias mais atrasadas.
ResponderExcluirEdmilson Tavares
Val Cabral
ResponderExcluirPrefiro a Marina do que uma Dilma aliada a José Sarney, Édson Lobão, Fernando Collor e Renan Calheiros... Nunes
Val Cabral
ResponderExcluirA Marina reconheceu à tempo, sua impotência diante de tantos interesses escusos apoiados pelo governo e capitulou.
Ninguém que esteja realmente preocupado com a preservação do meio ambiente aceitaria os desmandos e abandono em que se encontra a Amazônia e o país como um todo sem se revoltar.
Infelizmente a então ministra Marina Silva não teve apoio suficiente e se tornou uma figura meramente decorativa e sem poder.
Acredito que Marina como presidente poderá reverter este quadro peocupante.
Maria Helena Silva
Marina Silva ainda é muito crua em política, e também pouco conhecida como candidata e até mesmo como ambientalista. Mas vai ganhar experiência para 2030 sem dúvida. E quer saber? acho que vai ser bom para ela não ganhar agora, Luiz Inácio vai deixar um país à deriva, depois de Serra ela pegará um país nos eixos.
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