As notícias divulgadas pela imprensa a respeito das investigações dando conta de que as empreiteiras Camargo Correa, GDK e Queiroz Galvão superfaturaram os valores de pelo menos cinco obras da Petrobras, totalizando R$ 1,4 bilhão retirados dos cofres públicos, deixaram os petistas bastante nervosos, seja pela exploração do fato em plena campanha eleitoral, seja porque uma delas (a GDK) tem muita intimidade com o governo da Bahia. Ciente de que a impunidade garantirá a continuidade da roubalheira, as partes envolvidas já montaram a estratégia para justificar a dinheirama surrupiada, ou seja, de que os valores superfaturados se destinam ao pagamento da campanha eleitoral que se avizinha, o famoso caixa-dois. Dirão que, se houve crime, esse é eleitoral, circunscrevendo a questão entre o Congresso Nacional e os partidos, salvando os corruptos de qualquer constrangimento. Essa tese, mesmo que posteriormente desmoralizada, serviu, inclusive, ao presidente Lula na época do mensalão. O publicitário e lobista Marcos Valério, apavorado com a descoberta do esquema montado por ele e por alguns dos mais eminentes líderes petistas para arrecadar dinheiro para a campanha do partido, telefonou para o então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, dizendo que ia “estourar tudo” e que ele avisasse ao barbudo (leia-se Lula) de que “tinha bala contra ele”. As ameaças de Valério deixaram o ex-presidente da Câmara bastante preocupado, principalmente no que se referia ao Presidente da República, até então tido como insuspeito. Para acalmar os ânimos, entrou em campo o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que, segundo se noticiou na época, contou com o apoio do colega Arnaldo Malheiros, advogado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para montar a tese do crime eleitoral. A dita tese consistiu em dizer que Delúbio havia pedido ao amigo Valério para contrair um empréstimo junto ao Banco Rural e ao BMG no valor de R$ 39 milhões, destinando o dinheiro para pagamento das dívidas da campanha do partido, ou seja, para formar o caixa-dois petista. Assim, segundo os estrategistas, não haveria corrupção, suborno, propina ou outro crime senão o eleitoral. Concomitante a isso, chamaram o marqueteiro Duda Mendonça - publicitário oficial do PT- para ensinar Lula como tratar do assunto em público, principalmente diante dos jornalistas. Duda aconselhou o presidente a falar apenas para a classe C, D e E, as únicas que realmente sustentam sua popularidade, mesmo que à custa das bolsas da miséria. Logo em seguida, seguindo o ideário previamente montado, Delúbio e Valério vieram a público para confessar ter praticado “o crime eleitoral”. Conforme ficou demonstrado por ocasião da CPI dos Correios, o rombo ultrapassava a casa dos 100 milhões de reais, quantia que jamais foi paga aos bancos credores. Bastos também aconselhou Lula a reconhecer que o ex-deputado Roberto Jefferson o havia alertado para a corrupção do mensalão. Segundo reportagens da época, a fábrica de fraudes no governo envolve saques, malas e carros-fortes, de forma que tudo parecia casual, muito embora “nada seja por acaso no laboratório do PT”. Na mesma reportagem, a Petrobras é citada como uma empresa que investe 22 bilhões de reais no governo. “Tanto dinheiro atiçou o PT, que avançou sobre a estatal com a voracidade de quem descobre um campo de petróleo”. Nessa mesma reportagem o governador Jacques Wagner, atualmente réu em uma ação proposta pelo PMDB baiano por crime de prevaricação, foi citado como tendo aproximado a empresa GDK do governo do presidente Lula. Como se sabe, essa empresa é aquela que deu um Land Rover ao Silvinho. Segundo a revista, a GDK financiou a campanha de Wagner ao governo da Bahia no ano de 2002. Na época desses fatos, Wagner tinha uma filha empregada na empresa. “Em troca, ele a reaproximou do governo”. Para alguns analistas políticos, a fraude de que as empresas participantes das licitações da Petrobras fizeram acertos clandestinos para lesar os cofres públicos pode também terminar como um ato banal de arrecadar dinheiro para o caixa-dois do PT, o que não configuraria outra coisa senão um crime eleitoral, praticado por todos os partidos, e que, para alegria geral dos envolvidos, prescreve em três anos.
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