Em artigo publicado no jornal A Tarde, o jornalista José Barreto de Jesus faz uma análise da violência crescente que vem tomando conta da Bahia. Ele relata cenas de diversos pontos de Salvador, com jovens armados em pleno dia e o pânico e terror tomando conta de todos. A sua opinião é de que “aos poucos, mesmo sem querer, a velha Bahia vai incorporando o pavor, criando novos comportamentos, modificando sua índole, sua alma, em função da violência que sobe os muros feito herva daninha, sem controle, permeando e trancafiando vidas”. A ÍNTEGRA DO ARTIGO EM QUE O JORNALISTA ASSINA COMO ZÉDEJESUSBARRÊTO, SOB O TITULO DE MEDONHA REALIDADE E MAL DITA VERDADE: No Arraial do Retiro, em pleno dia, grupos de jovens circulam com armas na mão e na cintura, à mostra, exibindo força, a população amedrontada. Dia sim, dia não, aparecem corpos de jovens semelhantes executados nas quebradas do bairro. Outro dia, no Saboeiro, apanharam uma garota de 16 anos com drogas e uma submetralhadora azeitada, no ponto. Faz medo passar de carro no Alto de Santa Cruz, Bairro da Paz, Massaranduba, São Cristóvão, quebradas suburbanas, esquinas pitubanas, Beiru, Valéria… onde gangues ditam leis, fecham o tempo, executam e são executadas por rivais, justiceiros e policiais. Rotina. A média de assassinatos a cada fim de semana na Grande Salvador já ultrapassa a casa dos 20. Chacinas aqui e ali. Nunca se viu. Morrem, na absoluta maioria, jovens pobres, sem educação doméstica ou escolar e nenhuma perspectiva. Para que se sintam inseridos na sociedade de consumo só vêem um caminho adiante e rápido: o mundo das drogas. Dinheiro, poder, sexo, farra… e pactos de morte. Para nossos meninos e meninas, a vida vale um bom pagode, todo enfiado, apenas. O que mais lhes ensinam? Os cadáveres bóiam nos passeios, às portas, e nas telas da tevê, entre anúncios de grife, moto barata, latões de cerveja e belas bundas. Ao alcance dos olhos, do bolso, das mãos armadas. Semana passada, duas e meia da tarde em plena Paralela, um homem branco, bem-vestido, meia-idade, sentiu-se ameaçado por um doido ao volante que o raspou em velocidade e, na sinaleira vermelha próxima, saiu de dentro do carrão bradando ódio com uma pistola reluzente em punho, dedo no gatilho, pondo dezenas de motoristas em pânico, aos gritos. Às madrugadas, já é comum o cidadão acordar assustado com os pipocos, sem direito a olhar pela janela, balas perdidas, crianças chorando. No Centro Histórico da maltrapilha cidade tropeçamos sob o sol em restos humanos, lixos do crack e do álcool, que amedrontam e nos envergonham. Às vésperas do Ba-Vi em Pituaçu, turmas da Bamor e da Imbatíveis marcam a porrada já rotineira pela Internet. Não torcem por gols, querem sangue. Ignora-se. Aos poucos, mesmo sem querer, a velha Bahia vai incorporando o pavor, criando novos comportamentos, modificando sua índole, sua alma, em função da violência que sobe os muros feito hera daninha, sem controle, permeando e trancafiando vidas. Tempos de guerra, dizem as autoridades, acenando com mais armas, confrontos e novos presídios. Bala com bala, dente por dente. Ano de eleição, repasso o discurso de tantas campanhas, projetos preventivos, câmaras nas ruas, desarmamento, polícia comunitária e cidadã, uso da inteligência e de ações sócio-educativas, escola, iluminação e transporte decentes, programas piloto nos bairros, inserção de jovens no mercado de trabalho, sem o fedor de lixo nas calçadas, sem discriminações e com oportunidades para os que mais precisam. Mas o que conseguimos? Os marqueteiros no “horário eleitoral gratuito” afiam a pena das ilusões. Já contam os votos. É o jogo. Diante da barbárie estabelecida, leio sobre a criação do Programa Nacional de Direitos Humanos e sonho com assombrações reaparecidas dos túmulos da ditadura. A Constituição da redemocratização, parece, não tem mais serventia. Estabelece-se, então, a “Comissão da Verdade”. Apesar dos “bons propósitos”, sinto ranço de inquisição, até no nome. Leio-o em voz alta e comadre Zefa, ao lado, me pergunta em bom baianês: “Mas que verdade é essa assim que o sinhô fala?”.
Enquanto isso o (des)Governo do Estado se preocupa em inaugurar obras inacabadas e bajular os executivos da FIFA prometendo uma “Salvador do futuro” para abrigar jogos da COPA 2014. Pelo menos por aqui será um grande fiasco. Esta é minha opinião!
ResponderExcluirMeus amigos, tudo que se dissermos e cobrarmos em termos de segurança, seja no mar ou em terra, estaremos pregando no deserto. Pois é sabido que a segurança em nosso estado deixa muito a desejar.
ResponderExcluirÉ lamentável um estado como a Bahia, que possui um potencial turístico imenso se deixe assolar pela violência, pois lá fora somos alvo de gozação e na maioria das vezes desacreditados.
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