MOVIMENTO ANTICORRUPÇÃO SERÁ INSTALADO NA CÃMARA - Será na próxima terça-feira, em Brasília, a reunião programada por um grupo de parlamentares para dar início a um movimento suprapartidário contra a corrupção. A intenção é aproveitar a repercussão da recente entrevista do senador Jarbas Vasconcelos-PMDB-PE à revista “Veja” para provocar um amplo debate sobre a corrupção e outras práticas políticas nocivas, envolvendo inclusive a opinião pública. Além do próprio Jarbas Vasconcelos, fazem parte do grupo, entre outros, os deputados federais Gustavo Fruet-PMDB e Fernando Gabeira-PV-RJ. De acordo com este grupo de parlamentares, as acusações feitas pelo senador ao seu próprio partido, o PMDB, são apenas o ponto de partida para o movimento. O tema não é novo, não é exclusivo do PMDB nem do Brasil. Mas o senador Jarbas Vasconcelos acabou capitaneando uma manifestação que, vinda de alguém com longo tempo na vida pública e sempre no mesmo partido, deve ser aproveitada para provocar esse debate. As críticas de Jarbas Vasconcelos são significativas especialmente no momento em que o PMDB ocupa as presidências da Câmara e do Senado. Elas servem pelo menos como um alerta. Os idealizadores do movimento não devem ter a pretensão de deter o monopólio da luta contra a corrupção nem a ingenuidade de acreditar que uma manifestação dessa natureza vá, por si só, acabar com certos hábitos e práticas da política brasileira. Mas é uma forma de protesto e também um caminho para chegar a alguma mudança positiva. Denúncias como a do mensalão resultaram em mudanças na estrutura de governo e no aperfeiçoamento dos controles sobre o uso de recursos públicos. As denúncias sempre provocam mudanças e uma maior preocupação dos agentes públicos ao agir. Nisto este movimento deverá contribuir muito, para que tenhamos um Brasil menos á mercê das garrasa das aves de rapina que existem na política e nos governos.
Gabeira é um exemplo de que nem todos são safados na Câmara dos Deputados Federais. Enquanto Geraldo é um marco na sujeira, corrupção e vexame para o povo do sul da Bahia.
ResponderExcluirCarlos Rocha
Reservo-me ao direito de não me identificar. Mas gostaria muito que este meu comentário venha a ser postado. E desejo inicialmente, reconhecer neste seu blog, um espaço democrático e que realmente faz a notícia chegar aos formadores de opinião. Val Cabral tem se revelado um excelente comunicador da imprensa falada e escrita e este seu blog é o melhor da cidade. O assunto que quero abordar necessita da paciência dos leitores, pois não posso expressá-lo sem a delonga que requer suas minúcias. Mas vamos lá:
ResponderExcluirO Brasil não é um país intrinsecamente corrupto. Não existe nos genes brasileiros nada que nos predisponha à corrupção, algo herdado, por exemplo, de desterrados portugueses. A Austrália que foi colônia penal do império britânico, não possui índices de corrupção superiores aos de outras nações, pelo contrário. Nós brasileiros não somos nem mais nem menos corruptos que os
japoneses, que a cada par de anos têm um ministro que renuncia diante de denúncias de corrupção. Somos, sim, um país onde a corrupção, pública e privada, é detectada somente quando chega a milhões de dólares e porque um irmão, um genro, um jornalista ou alguém botou a boca no trombone, não por um processo sistemático de auditoria. As nações com menor índice de corrupção são as que têm o maior número de auditores e fiscais formados e treinados. A Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes. Nos países efetivamente auditados, a corrupção é detectada no nascedouro ou quando ainda é pequena. O Brasil, país com um dos mais elevados índices de corrupção, segundo o World Economic Forum, tem somente oito auditores por 100.000 habitantes, 12.800 auditores no total. Se quisermos os mesmos níveis de lisura da Dinamarca e da Holanda precisaremos formar e treinar 160.000 auditores. Simples. Uma das maiores universidades do Brasil possui hoje 62 professores de Economia, mas só um de auditoria. Um único professor para formar os milhares de fiscais, auditores internos, auditores externos, conselheiros de tribunais de contas, fiscais do Banco Central, fiscais da CVM e analistas de controles internos que o Brasil precisa para combater a corrupção.
A principal função do auditor inclusive nem é a de fiscalizar depois do fato consumado, mas a de criar controles internos para que a fraude e a corrupção não possam sequer ser praticadas. Durante os anos de ditadura, quando a liberdade de imprensa e a auditoria não eram prioridade, as verbas da educação foram redirecionadas para outros cursos. Como conseqüência, aqui temos doze economistas formados para cada auditor, enquanto nos Estados Unidos existem doze auditores para cada economista formado. Para eliminar a corrupção teremos de redirecionar rapidamente as verbas de volta ao seu devido destino, para que sejamos uma nação que não precise depender de dedos duros ou genros que botam a boca no trombone, e sim de profissionais competentes com uma ética profissional elaborada.
Países avançados colocam seus auditores num pedestal de respeitabilidade e de reconhecimento público que garante a sua honestidade. Na Inglaterra, instituíram o Chartered Accountant. Nos Estados Unidos eles têm o Certified Public Accountant. Uma mãe inglesa e americana sonha com um filho médico, advogado ou contador público. No Brasil, o contador público foi substituído pelo engenheiro.
Bons salários e valorização social são os requisitos básicos para todo sistema funcionar, mas no Brasil estamos pagando e falando mal de nossos fiscais e auditores existentes e nem ao menos treinamos nossos futuros auditores. Nos últimos nove anos, os salários de nossos auditores públicos e fiscais têm sido congelados e seus quadros, reduzidos - uma das razões do crescimento da corrupção. Como o custo da auditoria é muito grande para ser pago pelo cidadão individualmente, essa é uma das poucas funções próprias do estado moderno. Tanto a auditoria como a fiscalização, que vai dos alimentos e segurança de aviões até os direitos do consumidor e os direitos autorais.
O capitalismo remunera quem trabalha e ganha, mas não consegue remunerar quem impede o outro de ganhar roubando. Há quem diga que não é papel do Estado produzir petróleo, mas ninguém discute que é sua função fiscalizar e punir quem mistura água ao álcool. Não serão intervenções cirúrgicas (leia-se CPIs), nem remédios potentes (leia-se códigos de ética), que irão resolver o problema da corrupção no Brasil. Precisamos da vigilância de um poderoso sistema imunológico que combata a infecção no nascedouro, como acontece nos países considerados honestos e auditados. Portanto, o Brasil não é um país corrupto. É apenas um país que não prestigia e nem cria mecanismos sérios de impedir a corrupção.