Basta se determinar e o vício acabar de vez |
Por que as pessoas se viciam em cigarro, álcool, maconha, calmantes,
chocolates e crack? Porque provocam prazer e alívio. Instinto é uma maneira de
funcionar psicologicamente com a qual os animais nascem, que seria buscar
prazer e fugir da dor, de maneira mais imediata, intensa e sem esforço
possível. Nestes termos, tudo que provocar prazer ou alívio estará de acordo
com o instinto, ou seja, será naturalmente buscado. A pessoa viciada em
"crack" trocou todas, ou quase todas as buscas da vida por pedras
que, ao serem fumadas, darão prazer intenso. As propagandas antidrogas costumam
errar em suas frases, dizendo: "Drogas vão matar você!". A frase
certa seria: "Drogas dão muito prazer, mas se forem mal usadas, podem
acabar com a sua vida". Caminhemos pela sequência do raciocínio: qual
droga é lícita ou não?; precisa de "receita" médica ou não?; pode ser
usada a partir de qual idade?; em que situação ("Se beber, não
dirija")?; quanto de uso é considerado razoável/saudável ou não?; e quais
os efeitos orgânicos comuns relacionados ao seu uso a curto, médio e longo
prazo?. A minha regra sobre aprender a lidar com prazeres é a seguinte: use
drogas lícitas de maneira saudável, num nível que lhe faça mais bem do que mal.
É fácil lidar relativamente bem com vinho, mas difícil fazer o mesmo com a
cocaína. Simplesmente porque o segundo tende a dar mais prazer, afetar muito
mais o cérebro (por vezes de maneira irreversível) e sua compra é complicada e
implica em atividades ilegais. Segundo tenho lido sem alguns artigos
científicos, a dependência química pode ser dividida em dois aspectos: orgânica
e psicológica. Ambas podem variar de nível leve de intensidade a níveis graves.
A dependência química orgânica acaba em até duas semanas. A psicológica pode
durar uma vida inteira. Em última análise, vício é a incapacidade de lidar de
maneira saudável com algum prazer ou fonte de alívio, seja provocado por uma
droga vendida na farmácia, no mercado ou no traficante. Algumas pessoas trocam
as suas vidas por um prazer qualquer, seja ele exaltado (como ter um cargo de
status), admirado moralmente (através de trabalhos voluntários), beleza (se
esforçando para ter determinado corpo) ou apenas o prazer em si (fumar
"maconha" o dia inteiro). A diferença entre eles é o quanto
contribuem para a vida do indivíduo na vida social, familiar, profissional ou
da saúde. As pessoas costumam largar o vício numa situação: a relação
custo/benefício ficou ruim. O instinto trabalha com a ideia de curto prazo, não
longo. Assim, embora a médio e longo prazo a droga possa fazer mais mal do que
bem, a curtíssimo prazo (segundos ou minutos), provoca mais prazer/alívio do
que problemas. O dia em que alguém chegar à conclusão de que determinada droga
faz mais bem do que mal, aí é o início da possibilidade de sair das drogas.
Mas, infelizmente, algumas pessoas nunca chegarão neste ponto e viverão até o
dia em que o corpo aguentar o seu uso. Não basta dificultar o uso de drogas que
provoquem prazer ou alívio intensamente, É preciso conscientizar as pessoas da
verdade: bem usada pode ser um benefício, mal usada pode acabar com você.
Contudo, o medo tende a funcionar melhor: "Se você usar crack (ou cigarro
ou álcool), você vai morrer, perderá sua família, morará debaixo da ponte,
desenvolverá câncer e perderá a ereção!". Aprender a lidar saudavelmente
com prazeres é alívio para as dores da vida e uma das tarefas mais difíceis que
existem. Não basta dizer: "Isso vai te matar!", embora possa ser um
começo.
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