ALEGRIAS E DORES DO CARNAVAL NOSSO DE CADA ANO

O carnaval é a nossa maior festa popular. É um espetáculo com características tão brasileiras pela sua alegria, descontração e criatividade que até parece que nasceu aqui. A origem do carnaval vem lá das bandas do continente europeu, mais precisamente da Grécia, e a partir daí foi invadindo Itália, Portugal e França, até atravessar o Atlântico. No Brasil, regionalizou-se pelos seus ritmos bem distintos, com frevo em Pernambuco, trio elétrico arrastando multidões ao som do axé na Bahia, o samba que encanta o mundo pelo espetáculo das escolas de Rio e São Paulo. Mas nada disso faz diferença onde quer que esteja o folião: importante é que estamos no carnaval, estamos vivendo intensamente esse momento único. O carnaval estimula pessoas a superarem os seus próprios limites físicos e mentais; deixam de lado as introversões do cotidiano para vestir a fantasia da mais irrestrita descontração, antes nunca imaginável. Muitos nem percebem que a nova personalidade tem prazo curto de vencimento, dura só algumas horas, apenas enquanto o efeito da energia estiver agindo. Mas o carnaval é exatamente isso, uma explosão de prazer. É o grande palco para a exposição de corpos nus, esculturais, sensualismos, provocantes, estimulantes de fantasias imensamente coloridas, bem à moda da época. Não é coisa do capeta, é da imaginação criativa desse animal inimitável chamado ser humano. É também no carnaval que afloram os maus espíritos que se alimentam da contagiante alegria de outros para vomitar seus sentimentos enrustidos de perversidade. São os calhordas que só transcendem de felicidade quando vêem o sofrimento alheio; são os que provocam e querem briga, insultam nas multidões, batem, roubam e vão ao extremo da violência. Como temos plena consciência de que este ano na Bahia, infelizmente, o bloco da tranquilidade anda desafinado, é bom que fiquemos seriamente precavidos, levando para o carnaval as armas da consciência de que a folia acaba em cinco dias, mas a vida continua e muitos dependem de nós. Neste carnaval, vale a pena engatilhar e disparar a arma do amor, da compreensão, da tolerância, trazendo para perto de nós os verdadeiros amigos, a família, evitando encontros que podem terminar em situações desagradáveis, dolorosas. Se o País vive uma epidemia grave de mortes no trânsito, motivada pela combinação nociva de álcool e direção, é insensato ingerir essa mistura.