Neste dia de Finados, o cemitério esteve superlotado de pais, filhos, avós, netos, demais parentes e amigos de pessoas que não estão mais em nosso plano terrestre. Foi um momento de muita saudade, sofrimento e choros. Mas o cemitério fechou suas portas ao se aproximar do anoitecer e as pessoas foram embora; o próprio dia de Finados está indo embora.
Mas não ficou após
o terminar da tarde daquele lugar sombrio, sinistro e melancólico, a saudade, o
choro e a dor dos familiares e amigos dos entes queridos, que no cemitério
permaneceram. Saíram os visitantes e consigo levaram a tristeza de terem deixado
para trás, histórias vividas, lembranças inesquecíveis, pois a perda de um ente
querido arranca da gente um pedaço precioso da alma. É uma dor profunda que
provoca no coração o gosto amargo do abandono, trazendo a sensação vazia de ter
que continuar o caminho, sem aquele que nos encharcou de tanto amor.
Na poesia de Jorge
Luis Borges, que tanto fez desvendar os mistérios da aventura humana,
aprende-se que a par dos valores religiosos e sentimentais, a morte vem nos
ensinar que a vida - embora curta - não deve ser pequena.
Steve Jobs,
discursando para universitários americanos naquele período em que o encontro
com a morte já estava marcado, revelava uma feição leve ao confessar que a
inevitabilidade do fim pode ser libertadora, pois nos deixa nus diante da
realidade de não ter mais nada tão precioso a perder. É a sabedoria daquela voz
interior abafada, a gritar que devemos fazer urgentemente o que o coração nos
pede, antes que chegue o dia em que não haverá amanhã.
A consciência de
que o tempo corre irremediavelmente para os estertores da nossa breve
existência, deveria ser um alerta divino de celebração imediata da vida. É como
se fosse uma mensagem premente de Deus a nos impulsionar a viver na plenitude
máxima, retirando-nos da escuridão que nos faz matar nosso tempo apenas para
sobreviver.
As pessoas que
foram hoje ao cemitério, nesse doloroso dia de finados, prestaram as mais
justas homenagens àqueles que ao completar o ciclo terreno deixaram um oceano
de saudade. A espiritualidade, neste dia triste, cumpre seu compromisso
fundamental de renovar a esperança num futuro eterno, agindo como um alívio para
quem convive com a angústia de saber-se finito.
Mas esse turbilhão de emoções só se traduzirá em compreensão se provocar a percepção de que tudo está impregnado pela impermanência. O dia de finados demonstra que vida e morte fazem parte da mesma história. Nos segredos sagrados da saga humana repousa minha dúvida, se haverá outra oportunidade ou se o ponto que as separa é definitivamente o ponto final.
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