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O fato é que não é fácil se manter dono de si mesmo |
Parece simples, mas o melhor presente que
se pode proporcionar a si e ao mundo é ser o que é. Mas essa sintonia custa uma
vida infinita de aprendizado. Fazer e errar, falhar e perceber, agir e
refletir, pensar e operar, atentar, atentar. Ser o que é custa a humildade de
admitir, no entendimento do coração, a própria natureza: um perene vir a ser.
E, ainda assim, só se pode ser agora. Custa um dia descobrir-se desconectado da
essência própria, para ver emergir, poderoso, o anseio de se resgatar. E então
questionar-se, desvencilhar-se do que não serve mais, custa preterir a opinião
alheia e honrar a voz de dentro, ainda que pequenina, e abrir mão das máscaras,
das cascas. Mas ser não é estar nu. É vestir-se de si. O que custa paciência,
dedicação e esperança. E a compaixão pela ignorância e sofrimento da pátria
humana, reconhecendo-se como parte dela e colocando-se em prontidão, para
ajudar no que puder e for preciso. Vir a ser o que é implica entender que
muitos sonhos são ilusões. E que os sonhos legítimos sempre despontam da
singeleza da alma, transformando-se, algumas vezes, em saudáveis realizações
que beneficiam a muitos e retornam como gratificações profundas. Ser o que é
solicita a coragem de vibrar em tom pessoal e original e, ainda assim,
desprovido de qualquer vaidade, porque ser é um direito – e, a bem da verdade,
também um dever –, não uma vaidade. Ser o que é nunca foi vedado aos jovens, e
as crianças o fazem sem sabê-lo. Mas são os maduros bem maturados que colhem os
frutos de si e sabem apreciar seu sabor inigualável. E é precisamente para isso
que serve o envelhecer.
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