BANDIDOS FAZEM TOQUE DE RECOLHER NA PERIFERIA DE SALVADOR

Clima de medo e silêncio. Assim pode ser definido o bairro de Engomadeira na tarde de ontem. Comércio fechado, ruas e praças vazias e ônibus impedidos de trafegar eram sinais de que os traficantes do bairro, mais uma vez, impuseram medo aos moradores. O toque de recolher, seguido de ameaças, foi iniciado desde a última quinta- feira, quando um jovem foi baleado e morreu, após suposta troca de tiros com uma guarnição das Rondas Especiais (Rondesp). Em contrapartida, a Polícia Militar (PM) garantiu que a situação no bairro está normalizada e que os rodoviários não entram no local por medo. Logo no início do bairro, na Rua da Engomadeira, a diferença é percebida. As calçadas, que diariamente são tomadas por vendedores ambulantes, ontem, estavam vazias e com poucos pedestres. O comércio agitado, de um bairro apontado como independente, ontem fechou as portas, logo no início da tarde. No final de linha, nenhum ônibus foi encontrado e os moradores afirmaram que eles estavam concentrados em uma localidade conhecida como ACM. Segundo informações de moradores, as mudanças no bairro ocorreram desde a última quarta-feira, quando um homem foi baleado pela polícia. “Ele foi levado para o hospital e tudo continuou numa boa, mas quando eles (os traficantes) souberam que ele morreu, aqui virou um inferno. Bloquearam a pista com pneus e lixos queimados e ordenaram que o comércio fosse fechado”, contou um vendedor ambulante do bairro, sem se identificar. Na tarde de ontem, um motorista da empresa Vitral foi espancado por não cumprir ordem dos criminosos. “Um grupo armado interceptou o ônibus e pediu que o motorista atravessasse o veículo na pista. Como ele negou, foi espancado no meio da rua”, contou um funcionário da empresa, ressaltando que o motorista agredido é novo na empresa. “Ele está com medo de trabalhar aqui, mas também teme perder o emprego. Toda vez que ocorre alguma troca de tiros ou morte de alguém, eles expulsam os motoristas. É uma situação complicada”, relatou. A 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) confirmou os protestos de traficantes, mas negou que tenha ocorrido “toque de recolher” no bairro e a agressão ao motorista. “O que aconteceu é que dois elementos tomaram as chaves do ônibus. Depois disso, os demais rodoviários ficaram assustados e não quiseram entrar no bairro. A PM conversou com a empresa e garantiu a integridade física dos trabalhadores, mesmo assim, não quiseram”, afirmou o subtenente Gildélio, que ainda atribuiu o fechamento do comércio ao medo da população. “Não há toque de recolher, mas fazer o quê se a população obedece mais os criminosos que a polícia. Infelizmente sabemos que o tráfico de drogas impera sobre esses moradores”, disse. Medo – Assustados com a situação do local, moradores silenciam sobre os fatos e “medem” palavras temendo represálias. “É assim mesmo, às vezes, eles fazem isso aqui, já estamos acostumados. Dessa vez tiraram os ônibus daqui, mas o motivo não posso falar não”, disse uma moradora, sem se identificar. Considerado um dos bairros mais perigosos da capital baiana, a Engomadeira deve ser o próximo a ganhar uma base de polícia comunitária, já implantada no Calabar, Complexo do Nordeste de Amaralina e Fazenda Coutos. Com alto índice de tráfico de drogas, o bairro é assistido pela 11ª Delegacia, responsável também pela Mata Escura, Tancredo Neves, Pernambués, Sussuarana e São Gonçalo do Retiro. (Daniela Pereira).