Louvem-se os esforços dos governos federal e estadual, mas o PAC do Cacau - Programa de Aceleração do Desenvolvimento da Região Agrícola Cacaueira – que acaba de completar dois anos, precisa de novos impulsos para se concretizar realmente como um plano de ação destinado a salvar a lavoura cacaueira do nosso Estado. E mais ainda, a assegurar o futuro dessa importante atividade agrícola, que há mais de 250 anos gera riqueza para o país e para a Bahia, tendo sido durante dois séculos o nosso principal produto de exportação, fonte das divisas que impulsionaram outros setores da economia baiana. O PAC do Cacau tem que deixar de ser uma esperança, uma expectativa, e se tornar cada vez mais uma realidade, notadamente para os 250 mil trabalhadores rurais, que perderam, gradativamente, seus postos de trabalho e passaram a viver à margem da atividade agrícola regular, encarando a falta de emprego e o sub-emprego. A recuperação da lavoura do cacau vai representar muito mais que a recuperação do emprego desse numeroso contingente. Vai, na verdade, devolver a dignidade a famílias inteiras que nas fazendas de cacau tinham, além do trabalho, a casa, a escola e os meios para oferecer um futuro esperançoso a seus filhos. O programa ainda é uma esperança. Não há um clima de desilusão entre os produtores, mas não podemos deixar de chamar a atenção à necessidade de se injetar ânimo novo nele, que são os únicos agentes com real conhecimento daquilo que é necessário para a recuperação da lavoura. Esse novo impulso, entendo, está diretamente relacionado com a ampliação daquilo que o PAC oferece como alternativa para que produtores escalonem suas dívidas e recebam incentivos para replantar e produzir. Os quase 3 bilhões de reais previstos pelo PAC do Cacau para aplicação nas regiões sul e sudeste da Bahia, devem realmente chegar aos agricultores em condições mais favoráveis de crédito e prazo. São cerca de 30 mil e a maior parte está ainda endividada e sem alternativa de, ao menos, se candidatar a qualquer das operações previstas pelo PAC. Acertar o passivo desses produtores e oferecer crédito para que reestruturem suas lavouras é condição básica para que a região volte a ter esse prometido novo ciclo de desenvolvimento. Como pequeno produtor, tenho mantido cotidianamente contato com meus pares e sinto que a aflição é grande. A maioria teve que recomeçar do zero, após o advento nefasto da praga da vassoura de bruxa, que devastou os cacauais a partir da década de 80, do século passado. É uma lavoura que demora 8 anos para maturar e render seus primeiros frutos. Um longo tempo de espera e de agonia para quem perde tudo de “uma hora para outra”, ação que ocorreu com quase todos os produtores, a partir do alastramento da praga. Tenho a convicção de que a solução para a lavoura cacaueira está mesmo é no cacau. É nesse fruto generoso e nessa lavoura agro-florestal, que há séculos produz riqueza sem destruir a natureza e preservando a mata atlântica, que estão nosso rico passado e nosso promissor futuro. Mas para isso é necessário que o presente ofereça reais condições de se reconstruir a autoestima do produtor e a dignidade do trabalhador. As dificuldades geradas pela devastação da lavoura cacaueira levaram toda a região sul da Bahia a sofrer graves conseqüências como o desemprego e, por tabela, a freqüentar os noticiários relacionados com a violência urbana. Não podemos ser destaque como campeões da violência, fruto dos graves problemas sociais gerados pela devastação sofrida pelas fazendas de cacau vitimas da vassoura de bruxa, mas sim voltar a se destacar como região geradora de bens, de oportunidades e capital, com repercussão positiva em toda a Bahia. Foi assim em passado não tão distante e deve voltar a ser assim o mais rápido possível. Não temos tempo a perder. E isso só depende da união de todos nós, do trabalho de cada produtor, de cada agricultor, de cada mulher ou homem do campo. E também da vontade política. Todos juntos e tudo junto por uma PAC do Cacau que contemple a todos. (Felix Mendonça Junior - Empresário e produtor rural).
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