Com o término do carnaval, chega a hora de se cair na real! |
O carnaval acabou. Quando foi mesmo que essa frase foi
dita pela primeira vez? Talvez em 1900 ou 1901, por algum folião saudoso,
inconformado com o fim do Zé Pereira, que já não saía às ruas com seu batuque
infernal. Ou talvez antes, não sei. Sempre houve alguém que proclamasse o fim
do carnaval, sua descaracterização, o desaparecimento das tradições. Assim como
sempre houve quem proclamasse o fim do samba, adecadência do desfile das
escolas. Nos anos 70, com o reinado da Beija-Flor, muito se falou da desvirtuação
do espetáculo e no entanto os anos 80 nos trouxeram pelo menos três dos maiores
desfiles de todos os tempos: Bumbum paticumbum prugurundum, do Império Serrano,
em 1982, a Kizomba da Vila, em 1988, e os Ratos e urubus do Joãosinho, no ano
seguinte - e olhem que estes dois últimos já foram em plena Era do Sambódromo,
cuja construção, com arquibancadas altas e afastadas demais, provocou uma
enxurrada de comentários decretando que o fim se aproximava. E o carnaval de
rua? Este também, coitado, já teve a morte decretada muitas vezes. Não é tão
bom quanto o da Bahia, dizem uns. Tem cada vez mais violência, dizem outros.
Mas por onde anda essa gente? O que será que essas pessoas que reclamam fizeram
no carnaval? Será que foram ver o Chiclete na Barra e na marra? Ou preferiram
ficar numa de “Nem Muda Nem Sai de Cima”? Talvez aqueles que reclamam tenham
chegado às lágrimas ao ouvir “Noites Traiçoeira’ em plena festa carnavalesca.
Ou talvez tenham visto, como eu, um bando de pivetes deitados no asfalto, braços
e pernas abertos, como crucificados, sendo revistados por PMs de arma em punho.
Mas querem saber de uma coisa? Neste estado misterioso e mágico, o horror e a
delícia se misturam, deixam um gosto de beijo e sangue na ponta da língua. É o
carnaval no fogo, a festa de um estado excitante demais. O carnaval acabou,
sim. Mas acabou ontem. Garanto aqui, sem medo de errar, que foi maravilhoso,
talvez o melhor dos últimos tempos. E que ano que vem tem mais. Acabou a maior
festa do mundo, o Carnaval brasileiro de 2019. Foliões de todo o país se
deliciaram com as micaretas, os bailes e resgataram pra si somente os momentos
de magia e festa. Como acontece todo ano, o Carnaval, infelizmente, trouxe para
a vida seu lado negativo e imaculado. Trouxe como conseqüência a morte fútil, a
ressaca carnavalesca aproximou o belo do feio, enquanto foliando-se para
esquecer da promiscuidade alheia nosso povo embarcou nessa aventura que durou,
no mínimo, 4 dias 4 noites sem saber realmente o que o destino poderia lhe
reservar. Acidentes, estupros, assaltos, arrombamentos, roubos, assassinatos e
seqüestros deixam de ser meramente números diários quando se dão entre os dias
dessa festa limpa, porca e popular. Levando-se em conta que na Bahia, carnaval
é algo corriqueiro, nossos compatriotas do congresso já armaram o palco para o
desfile alegórico que representa a casa. Desfilarão sobre o povo aquilo que
eles tem de melhor, que é justamente fazer da coisa publica uma festa, fazer de
nossos planos e sonhos um imenso carro de alegoria puxado á corda. Pelos
próximos dias não lembraremos de nada, menos ainda de outros "Joãos",
DSTs, AIDS, deficientes físicos que estão por vir, como conseqüências do que é
escondido pelos governos que organizam os carnavais.
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