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10 de janeiro de 2017

HÁ COISAS QUE NOS FAZEM DIVAGAR NO TEMPO

Há coisas que só os bagunçados sabem encontrar na arrumação
Dia desses, tentando achar um documento na verdadeira Babel em que há muito se transformou o meu cantinho de trabalho em minha residência, dei-me conta de quantos cacarecos tenho juntado naquele espaço que é, em toda a minha casa, o único realmente meu. Os outros ambientes são domínio da Joelma (a maioria) ou das meninas Ine e Fran, nos quais eu transito como um mero intruso permitido. No meu espaço de trabalho, não; ali eu impero como um monarca absolutista, lá eu posso guardar – ou entulhar, como diriam elas – as coisas que, em horas de maior autocomiseração, eu chamo eufemisticamente de “objetos pessoais”. Ninguém está autorizado a mexer em nada, nem mesmo Joelma que se contenta apenas em tirar superficialmente a poeira mais grossa, nada além disso. Acha-se ali de tudo um pouco. Fotografias de família, convites de casamento e de formatura, “santinhos” de sétimo dia, manuscritos de parentes e amigos falecidos, suvenires de viagens e um amaranhado de documentos e livros. Livros aos montes e invadindo o chão, entre os lidos e os que nunca foram sequer folheados, para minha angústia sempre crescente. Eu sei onde e em quais circunstâncias foi comprado cada objeto, e cada coisinha ali abrigada é um gatilho da memória que desperta dezenas, senão centenas de lembranças e sensações. Mexendo neles, viajo no tempo e sei que meu olhar vai para longe, levando-me de volta a cada um daqueles lugares visitados, a cada um dos momentos vivenciados em outras épocas saudosas. “Confesso que vivi”, como diria Pablo Neruda, ao meu modo e do meu jeito; não sei se certo ou errado, mas fiel a mim mesmo. A vida deveria ser medida em momentos, não em minutos. Há horas que passam sem deixar nada em nós, enquanto há momentos que duram uma eternidade no nosso relembrar. E como é bom termos recordações que nos mostram ter valido a pena o caminhar empreendido até agora! Os meus cacarecos afagam o meu coração, tarde da noite, quando estou organizando as contas e rasgando os papéis que se acumulam sem parar, pensando no amanhã que às vezes me preocupa.

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