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O português tem sido a maior vítima do avanço tecnológico |
Quando vejo o resultado dos
exames do Enem, onde 53.035 candidatos obtiveram nota zero em português, sem
que aí fossem computadas as devoluções de provas em branco, vem-me à lembrança
um bom papo que tive com um amigo, professor do ensino médio. Ministrando
matemática em colégio particular da classe mais abastada, vinha sofrendo com as
modificações introduzidas em sala de aula, cujo número de alunos crescia a cada
ano, tornando difícil ministrar sua matéria, que requer uma atenção absoluta,
para sessenta alunos armados dos mais modernos equipamentos eletrônicos para
distraí-los. No início, eram apenas trinta. Até aí, estava em suas mãos a ordem
que deveria impor a todo custo. Como se não bastasse, deparou-se com uma
dificuldade que estava fora do seu alcance. Ao aplicar um problema e o seu
enunciado para que a turma resolvesse, viu muitos pupilos em palpos de aranha
por não saberem o que liam. Sim, são os analfabetos funcionais que não têm a
capacidade de interpretar um texto, o mais simples possível. E, se não sabiam o
que requeria o problema, simplesmente não conseguiam resolvê-lo. Precisava
ensinar interpretação de texto. E essa não era sua disciplina. Com dificuldade
e muita paciência, pasmem, tinha que traduzir do português para o português.
Ainda por cima, como dizia o professor Raimundo: “o salário, oh”. Naquela época
em que conversamos já estava disposto a largar o ensino médio ficando apenas
com o superior. O dia a dia vem mostrando que essa dificuldade para com a nossa
língua está cada vez mais escancarada. As redes sociais são o espelho mais
reluzente que nos ofusca. Não se exige que sejam postados textos primorosos,
mas que se tenha conhecimento das regras mais elementares da língua mater.
Principalmente ortografia, pontuação e concordância. São esses jovens que vão
prestar exames para tentar a lida universitária. Mesmo vendo as livrarias com
um bom movimento e a facilidade de adquirir bons livros pela internet, ainda é
pequeno o número de adeptos da boa leitura. E as escolas não estimulam.
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