A figura da
emenda parlamentar do Orçamento da União é recente como prática congressual.
Historicamente, os parlamentares encaminhavam ou buscavam influenciar obras e
serviços nos ministérios e junto ao governo. Constituía-se num clientelismo
restrito, uma influência exercida para “atender às reivindicações” regionais e
locais, mas já possuía o sentido clássico do deputado ou do senador
“despachante”, que consegue as “obras” de que a população precisa em troca de
apoio ao governo. Nas duas últimas décadas, essa prática cresceu, ultrapassou o
privilégio de ser da situação e se generalizou para todos os deputados e
senadores. Virou um “direito” do parlamentar, com uma cota anual crescente, que
hoje atinge cerca de R$ 13 milhões. É mais uma prática funesta, clientelística,
deseducadora da política democrática e republicana e, cada vez mais,
estimuladora da corrupção. É claro que não é a única mazela do Congresso
Nacional. O financiamento privado via pessoas jurídicas, o voto nominal, as
coligações proporcionais e a ausência de proporcionalidade idêntica para todos
os Estados na representação da cidadania são problemas talvez maiores. Mas
todos contribuem para o sistema político-eleitoral retrógrado, antidemocrático
e subordinado ao poder econômico do qual somos vítimas. Os executivos eleitos
não conseguem base parlamentar via sistema eleitoral montado e organizado para
gerar essa situação e então apelam para o mecanismo da “troca de favores” para
conseguir maioria ou neutralizar a oposição. A prática consolidou-se de tal
forma que, os deputados federais aprovaram um Projeto de Emenda Constitucional
(PEC) para tornar as emendas parlamentares compulsórias ao Poder Executivo. A
razão disso é que muitas vezes seus projetos são frustrados pela ineficiência,
atrasos, pouca simpatia ou constrangimento dos ministérios e órgãos por meio
dos quais se viabilizam as propostas. A emenda parlamentar não é apenas absurda
como forma de estabelecer o gasto público. Sem eficiência e planejamento, os
recursos do Orçamento Geral da União são picotados, pulverizados, sem nenhuma
avaliação de prioridades regionais e setoriais nem consideração à opinião da
população, que deveria ser ouvida de forma organizada e deliberativa. Essa
prática também distorce a disputa democrática nas eleições, com os adversários
e dentro dos próprios partidos. Ao longo do mandato, o parlamentar pode
manipular uns R$ 52 milhões e estabelece uma rede de clientelismo com o recurso
público comprometendo prefeitos, vereadores, lideranças comunitárias e
sindicais, com o “favor” da emenda pessoalmente conseguida. Nessas condições,
qual é a chance de uma liderança nova almejar uma eleição? Além dos milhões em
clientelismo, soma-se, crescentemente, o financiamento empresarial das
campanhas. O resultado disso é a estarrecedora estatística que prova que mais
de 70% dos eleitos na Câmara Federal coincidem com as 513 campanhas mais caras
do país. A emenda parlamentar é a antessala da corrupção. Ali começam os
negócios com as empreiteiras, com a prefeitura e com vereadores que serão
beneficiados. A emenda normalmente já vem acompanhada do projeto da obra e/ou
serviço e de quem poderá fazê-la. Em muitos casos, são as empreiteiras que
“sugerem” obras e respectivos projetos. É claro que esse não é o único caminho
para a governabilidade. É possível, mesmo em minoria parlamentar, governar
buscando a legitimação nos mecanismos da democracia participativa, estimulando
a participação popular por meio das formas orgânicas já existentes. Nada impede
que o Executivo Federal tenha iniciativas desse tipo mobilizando os movimentos
sociais e suas formas orgânicas já existentes na elaboração do orçamento
público.

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