Com apenas 12 anos, D. já tem as mãos
queimadas pelo fogo que usa para acender o cachimbo do crack. Os olhos
vermelhos e os dentes escurecidos indicam um uso contínuo da droga. “Ô tio, só
fumo quando tô com fome”, responde o menino, que afirma ser vítima de
espancamentos da avó depois que os pais foram assassinados por traficantes de
Plataforma, no Subúrbio. A aparência fragilizada do menino, que diz não saber
ler nem escrever, entrega o consumo da droga. “Apanho muito. Fico na rua o dia
todo. Moro aqui faz tempo”, conta o garoto, que passa os dias perambulando pelo
Centro Histórico de Salvador em busca de trocados que completem o valor de uma
pedra: R$ 5. Na hora de fumar, até os banheiros químicos viram abrigo. Assim
como D., as crianças e adolescentes em situação de rua em Salvador têm no crack
um refúgio. O secretário municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza,
Maurício Trindade, afirma que pelo menos 50% deles usam a droga, de acordo com
mapeamento feito pela secretaria. “Hoje, a população em situação de rua em
Salvador é de 3.500 pessoas. Desses, 10% são menores e pelo menos metade usa
crack. A criança é muito mais susceptível à influência da droga”,
diz Maurício Trindade. Partindo dessa estimativa, há pelo menos 175 menores
viciados em crack vivendo espalhados pelas ruas da capital baiana. O mapeamento
da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) indica que a maioria
das crianças e adolescentes que consomem a droga - assim como os usuários de
todas as faixas etárias - está concentrada onde o dinheiro circula. “Para
alimentar o vício, é a forma que elas encontram, na abordagem dos turistas ou
em bairros nobres”, diz a coordenadora da Proteção Social Especial da Semps,
Dinsjani Pereira, que indica o Centro Antigo como área de maior concentração.
Quem conhece bem a Rua 3 de Maio, no Pelourinho, conhece um menino franzino que
fuma crack por ali. O garoto, que anda com farda do Colégio Estadual Odorico
Tavares, não foi à escola. “Ele passa os dias dormindo todo sujo e parecendo um
zumbi. Todo com os dedos queimados e o nariz machucado de cheirar coisa
errada”, comenta uma comerciante da rua, que prefere não se identificar. O
consumo do crack, geralmente, é feito com adultos. “Essas crianças não têm
família próxima e por isso ficam vulneráveis nas mãos de adultos e até mesmo de
traficantes”, diz Trindade. (Jorge
Gauthier - www.correio24horas.com.br).

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