Olhar por
cima do muro, espiar pelas frestas, bisbilhotar, acompanhar os passos, seguir,
perseguir. Isso existe desde o início da humanidade. Despertamos nos outros e,
algumas pessoas nos despertam, uma curiosidade mais forte, aquela vontade de ir
mais além sobre o que é, o que faz, com quem se relaciona. A maioria dos
usuários de internet sabe, mas esquece ou finge não saber: estamos muito
expostos e mesmo sem nos darmos conta somos um livro que qualquer um pode
abrir. Blog, microblogs, redes sociais, salas de bate-papo, seja lá
por que via for, está fácil entrar na intimidade de qualquer pessoa. Abrimos
mais que uma fresta. Escancaramos janelas e portas da casa, da vida, da alma,
do pensamento, da vida financeira, afetiva, social. E tudo isso embasados justo
nisso: a socialização. Deixados de lados os exageros - em que cada passo
é narrado com a emoção de grandes eventos - mesmo os mais comedidos distraem-se
e lançam confidências, desabafos, informações que deveriam estar em sigilo,
guardadas para sussurros ou conversas de pé de orelha. A doce sensação de
estarmos sós, isolados pelas telas cada vez mais finas e computadores de mão,
cria ambientes de familiaridade com pessoas com quem encontramos uma
única vez ou que nunca vimos pessoalmente. De repente, soa natural desde
brincadeiras íntimas a comentários maldosos. Fica parecendo tão legal curtir o
mal-estar um do outro, a felicidade repentina ou detestar o fato das férias ou
da promoção ter saído antes pro ‘amigo’ do que pra nós. Não temos mesmo noção
do alcance das nossas letras digitais. Não temos noção de quem nos lê, de quem
abre nossos links, de quem bisbilhota nossas vidas. Muito menos de suas reais
intenções. Um relacionamento mal-resolvido do passado pode desencadear
intenções de ódio no presente. Ameaças pela internet não é ficção. Protegidos
pelo anonimato, perseguidores, seguidores, amigos, contatos, podem se tornar
inimigos reais. Falar sozinho, com os botões e teclas não combina com o
ambiente virtual. Não há, na verdade nunca houve, uma divisão dos dois mundos.
Somos na internet quem somos na vida concreta. Não adianta disfarçar, não
adiantar suavizar. Podemos até esconder a personalidade, podemos expor ao
extremo nosso cotidiano, mas sabemos quem somos, muitos sabem quem somos. O
problema é que no meio do caminho existem os psicopatas, os doentes, os
maquiavélicos, os do mal. E contra esses as ferramentas anti-spam e controle da
privacidade nem sempre são suficientes. Contra esses, só Jesus na causa. Amém!
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