Quem você acha que foi mais importante na formação do seu caráter e para que
você alcançasse o nível de vida que você tem atualmente? Os seus professores,
os seus médicos ou seus advogados? Na minha infância, muitos pais sonhavam para
seus filhos com a carreira de médico ou advogado. Na década de 1970, quando
cursei o antigo ensino primário, a escola pública era predominante,
complementada com escolas mantidas por entidades religiosas. O magistério era
uma carreira importante e me lembro de que as orientações que recebia de
algumas professoras, tinha tanta relevância quanto a formação que recebia dos
meus pais, Abimael e Nice. A cada dia que passa, nossas crianças ficam mais
cedo sob a responsabilidade de educadores da pré-infância e do ensino
fundamental. Infelizmente, os níveis de remuneração, tanto no setor público
quanto privado, não são capazes de atrair, reter e motivar os profissionais com
os níveis de qualificação e competências desejáveis para a formação de pessoas
capazes de exercer sua cidadania plena. Reconheço aqui o esforço e
comprometimento de centenas de milhares de professores que exercem sua
profissão com devoção, apesar das condições de infraestrutura e de remuneração
inadequadas que ainda predominam neste segmento do setor público e privado. Nossos
filhos são nosso maior investimento e a herança que vamos deixar para o futuro.
Alguns economistas calculam que gastamos entre dois mil e quinhentos e um
milhão de reais com a formação dos nossos filhos, dependendo do nível de renda
da família. Para superar a crise do ensino público nos últimos 40 anos, grande
parte das classes de renda alta, media e mesmo da nova classe média optaram
pelo que parecia a saída mais fácil: o ensino particular. Atualmente observo
pequenos produtores rurais que utilizam a renda da lavoura para pagar a
universidade particular dos seus filhos que não conseguem competir por uma vaga
nas universidades públicas. A classe política do Brasil investiu na ampliação
quantitativa da oferta de vagas, na inclusão de todas as crianças na escola, na
ampliação do ensino fundamental para nove anos. Mais recentemente, vem
investindo em creches e pré-escola e a nova moda é a tecnologia da informação.
É difícil questionar estas opções, se não pela omissão do elemento essencial na
participação da escola no processo de formação de um cidadão: o ser humano, o
Pedagogo responsável maior por este processo. Imaginemos no Brasil uma
realidade onde os pedagogos sejam remunerados com o dobro do salário médio dos
médicos. Poderíamos até sonhar com uma completa inversão de valores, onde o
teto do funcionalismo público fosse o salário dos professores do ensino
fundamental. Afinal de contas, grande parte dos problemas com os quais os
médicos e os juízes tem que lidar no dia-a-dia poderiam ser evitados com uma
formação adequada de bons cidadãos. Neste cenário, a competição por vagas de
professor no ensino público seria formidável. É bem provável que as escolas
contassem em seus quadros de recursos humanos com os melhores profissionais das
diferentes áreas. Nossas crianças estariam sob a orientação dos profissionais
mais qualificados e competentes, devidamente remunerados e verdadeiramente
reconhecidos como elementos chave na formação de uma nação cidadã.

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