Flanelinha virou profissão, guardador informal de carros em praças e lugares de movimento. O flanelinha do estacionamento que fica em frente ao meu apartamento era cordial, sempre atento à saída e chegada de veículos. Esperava uma go
rjeta, mas não reclamava se nada lhe era dado. De repente apareceu um outro. Chegou e foi logo dizendo a que veio. Menor de porte e de idade, mas com disposição a mais, com um pedaço de pau na mão expulsou o outro guardador. Mudaram os hábitos; o novato era extremamente agressivo. Acompanhava os motoristas desde a descida do carro, insistindo, resmungando e pedindo gorjetas. Ameaçou mulheres. Dizia simplesmente: “estou com fome”. Contei o fato ao Sr. Manoel dos Anjos, homem de princípios, ação e coração solidário. No dia seguinte ele procurou o Bob, assim se chamava, mas ele não estava para muita conversa. Manoel prometeu uma tapioca; ele topou. E depois da terceira tapioca engolida com avidez contou sua história. Nascera em Almadina. Seu pai morrera fazia quatro anos e sua mãe virara prostituta e o abandonara. Desesperado, escondeu-se na carga de um caminhão que passou pelo local e quando saiu debaixo da lona estava em Itabuna. O Manoel propôs levá-lo a um local que abriga garotos abandonados: teria casa, comida e aprenderia uma profissão. Uma semana depois reapareceu. Fugira do abrigo. Daí em diante ganhava gorjetas e dormia debaixo de uma árvore. Descobriu a igreja próxima e após as missas lá estava ele mendigando esmolas. Meses depois começou a escalada de drogas e para o crime foi um passo: pequenos roubos, agressões, convivência com malfeitores. E então aconteceu um dos seus piores momentos: após o término da missa do domingo penetrou sorrateiramente na sacristia e roubou as doações que os fiéis haviam feito durante o ato cristão. O crack levou-o à prisão. Iniciava uma derrocada total. Semanas depois foi encontrado morto numa praia ilheense. Que sorte cruel o acompanhara. Uma desgraça previsível. Da parte dos cristãos, tristeza; não só por ele, mas por milhares de crianças abandonadas, sofredoras, vítimas fáceis de tragédias neste selvagem coração da vida. Lutei contra a sensação de pessimismo que me acometia preferindo manter a humaníssima esperança que tenho de um mundo melhor.
rjeta, mas não reclamava se nada lhe era dado. De repente apareceu um outro. Chegou e foi logo dizendo a que veio. Menor de porte e de idade, mas com disposição a mais, com um pedaço de pau na mão expulsou o outro guardador. Mudaram os hábitos; o novato era extremamente agressivo. Acompanhava os motoristas desde a descida do carro, insistindo, resmungando e pedindo gorjetas. Ameaçou mulheres. Dizia simplesmente: “estou com fome”. Contei o fato ao Sr. Manoel dos Anjos, homem de princípios, ação e coração solidário. No dia seguinte ele procurou o Bob, assim se chamava, mas ele não estava para muita conversa. Manoel prometeu uma tapioca; ele topou. E depois da terceira tapioca engolida com avidez contou sua história. Nascera em Almadina. Seu pai morrera fazia quatro anos e sua mãe virara prostituta e o abandonara. Desesperado, escondeu-se na carga de um caminhão que passou pelo local e quando saiu debaixo da lona estava em Itabuna. O Manoel propôs levá-lo a um local que abriga garotos abandonados: teria casa, comida e aprenderia uma profissão. Uma semana depois reapareceu. Fugira do abrigo. Daí em diante ganhava gorjetas e dormia debaixo de uma árvore. Descobriu a igreja próxima e após as missas lá estava ele mendigando esmolas. Meses depois começou a escalada de drogas e para o crime foi um passo: pequenos roubos, agressões, convivência com malfeitores. E então aconteceu um dos seus piores momentos: após o término da missa do domingo penetrou sorrateiramente na sacristia e roubou as doações que os fiéis haviam feito durante o ato cristão. O crack levou-o à prisão. Iniciava uma derrocada total. Semanas depois foi encontrado morto numa praia ilheense. Que sorte cruel o acompanhara. Uma desgraça previsível. Da parte dos cristãos, tristeza; não só por ele, mas por milhares de crianças abandonadas, sofredoras, vítimas fáceis de tragédias neste selvagem coração da vida. Lutei contra a sensação de pessimismo que me acometia preferindo manter a humaníssima esperança que tenho de um mundo melhor.
Eu não acredito nisso.
ResponderExcluirMiranda de Freitas
SALVE-SE QUEM PUDER...
ResponderExcluirNUNES