SEMPRE HAVERÁ UM SILÊNCIO ENSURDECEDOR

Uma homenagem ao silêncio. Ao meu, ao seu, ao silêncio de todos aqueles que souberam ver, ouvir e calar. Não é, portanto, do silêncio que não faz pancada nem ruído. Mas, do silêncio que guarda, que, sobretudo, guarda. Do silêncio de tantos e de tudo para não destruir, desfazer pessoas, coisas, fatos que marcaram em algum momento da vida, que chegaram para ser presença e exigir silêncio. Silêncio do gesto e da palavra. Daquele silêncio que compreende. Apenas compreende, para não gerar incompreensões ou até desentendimentos. Do silêncio diante da calúnia e também do engano. Do silêncio que faz morrer a palavra fácil, pela nudez. Do silenciar quando se tem muito a dizer e nada se diz, para não proclamar a verdade, às vezes, do próximo mais próximo porque a ele, convém o silêncio. Do silêncio que advinha, que prescuta. Do silêncio da magoa que magoou e fez sangrar o coração pelo olhar, pelo gesto, pela palavra e, pelo grito. Do silenciar com a razão e o direito. Do silenciar dos passos miúdos, do caminhar devagar, lento, para não ser presença. Do silêncio de tantas madrugadas sem sono e sem sonhos. Do silêncio quando a canção se faz presente e se reveste de lembranças que não podem mais ser lembradas, porque o tempo as apagou na lembrança do outro. Do silêncio da incompreensão do amigo, do irmão ou do amado. Do silêncio que impõe o dever de não ser feliz. Do silêncio a dois. Difícil, desumano e até, que esvazia os sentimentos e faz da vida um só perdão, um só perdoar. São tantos os heróis anônimos do silêncio. São tantos aqueles que caminham ao sabor do tempo e das circunstâncias. Vigilantes da paz e do amor. Do silêncio da lágrima que cai, e faz calar até a dor. Do silêncio que bate, machuca, que açoita, e aniquila. E, por fim, do silêncio de ser nobre, não para fazer a nobreza dos outros. Mas do silêncio, em nome da paz.