Às 7h30 de quinta-feira, 28 de julho, o empresário Gustavo Melo, 37 anos, está prestes a encarnar Willian Foster, o personagem que enlouquece em um congestionamento no filme Um Dia de Fúria. Mas, ao contrário de Los Angeles, com seus quase 4 milhões de habitantes, Melo está preso em uma avenida de Itabuna, cidade do Sul da Bahia que tem cerca de 5% da população da metrópole americana. A bordo de um Ágile Preto, ele berra irritação: “Não tem dia, nem lugar, nem hora para o trânsito parar. Isso aqui virou o inferno”. Itabuna, o tal inferno sob rodas, é também o coração econômico da região cacaueira e símbolo de um fenômeno que transformou, para pior, a rotina das principais cidades do interior baiano, todas de porte médio: o colapso urbano causado pelo boom automotivo dos últimos dez anos. De acordo com dados do Departamento Estadual de Transito (Detran), em 2001 havia 628.481 veículos em circulação na Bahia, sem contar a capital, Salvador. No último levantamento, até julho deste ano, o volume já era de 1.866.121, três vezes maior. “O problema é que não houve planejamento para absorver a demanda crescente, o que vem sufocando o tráfego nos grandes centros do interior”, admite o secretário de Trânsito e Transportes de Itabuna (Settran), Wesley Melo. O despreparo para receber uma frota que cresce sem freios é evidente na cidade de 204 mil habitantes. No início da década passada, o município tinha 21.003 veículos cadastrados, número que triplicou para 56.500 em 2011, puxado pela facilidade de financiamentos dirigidos, sobretudo, à emergente classe C, o atual filé do mercado nacional. Contudo, em descompasso com o inchaço no trânsito, Itabuna não sofreu nenhuma grande intervenção viária. A última data do início dos anos 80, quando o então prefeito Ubaldo Dantas criou e ampliou avenidas e ruas. “O resultado é esse aí. A lentidão é constante, mas nos horários de pico fica tudo travado. Levo até 45 minutos para percorrer uma distância que não passa de três quilômetros. A cidade vai parar de vez em breve”, prevê o empresário, que luta a cada dia para não virar o Willian Foster interpretado pelo ator Michel Douglas. GARGALOS - Enquanto move o carro para ganhar mais alguns metros na Avenida Cinquentenário, Melo dá a dica: “Dê uma volta pelo centro e veja você mesmo”. Lá, estão concentrados os polos comercial e de serviços da cidade, que serve de referência ao restante dos municípios do Sul baiano, responsáveis pelo incremento diário de cerca de 20% à já saturada frota de Itabuna, segundo estudos da Settran. Na rua Ruffo Galvão, estreita como quase todas as outras da área, carros, motos, ônibus e bicicletas se apinham para transitar na pista, que serve ainda de estacionamento. Pior: nas duas margens. O panorama é o mesmo nas avenidas de acesso ao centro: Inácio Tosta Filho, Firmino Alves e Juracy Magalhães, que completam o conjunto de gargalos da cidade, junto com a Amélia Amado. Esta, em obras de expansão, é uma das apostas do prefeito da cidade, Capitão Nilton Azevedo (DEM), para tirar o tráfego local da UTI do asfalto. “Ouço muitas reclamações por causa do impacto do trânsito, mas estou buscando soluções, já que meus antecessores não fizeram nada”, aponta. Militar que iniciou a carreira como guarda de trânsito e chegou ao posto de diretor da regional do Detran na cidade (5ª Ciretran), Azevedo diz ter o remédio para fazer o tráfego local voltar a respirar sem aparelhos. “Estamos concluindo a ampliação e pavimentação da avenida Pedro Jorge, que vai diminuir o fluxo de veículos do centro da cidade, já que dá alternativa a quem quer ir para Ilhéus (cidade turística distante 26 quilômetros de Itabuna)”, analisa. Enquanto diz ter achado as cartas para a jogada certa, o ex-guarda de trânsito parece ter esquecido a importância da função na qual começou a carreira na Polícia Militar. Mesmo à beira de um colapso, a cidade conta apenas com 26 agentes para dar o mínimo de ordem ao caos. O número seria suficiente se não fosse o regime de trabalho adotado. “As equipes trabalham alternadamente, em turnos de 24 horas, com folga de 72 horas. Sabemos que o número é insuficiente para dar conta”, afirma o secretário Melo. Com a pouca quantidade de agentes nas ruas, sobram infrações. A Settran emite, por mês, entre 800 e mil notificações com base no Código de Trânsito Brasileiro, quantidade considerada baixa pelo órgão. “Sem fiscalização, é muito mais fácil quebrar a legislação e não ser punido”, reconhece Melo. “Mas, é bom lembrar que esse fenômeno não ocorre apenas em Itabuna. É por todo o interior baiano”, assinala o prefeito. É hora de colocar o pé na estrada. De posse do levantamento do Detran com os números da frota de veículos, o CORREIO visitou mais nove cidades ranqueadas entre as quinze maiores frotas do estado, numa extensão de cerca de dois mil quilômetros. E constatou que, no interior baiano, o caos pede mesmo carona. UMA PONTE PARA OS CONGESTIONAMENTOS - Toda manhã, Ilhéus é regida pelo ‘Buzinaço da Impaciência’, a mais conhecida ária da ‘Ópera do Tráfego Inchado’. O palco: a ponte Lomanto Júnior, única via de ligação entre o centro da cidade e a emergente região das praias do Sul, a nata da cidade imortalizada nos livros do escritor Jorge Amado. Construída pela Odebrecht em 1966, durante a presidência militar de Humberto Alencar Castelo Branco, a ponte tem apenas duas pistas para cruzar a foz do Rio Almada. De lá para cá, só passou por uma reforma, em 2009, mas restrita à iluminação e à parte estrutural. Ampliação, nada. O que faz com que, diariamente, os moradores da região sul da cidade enfrentem, pela manhã, congestionamentos de até 4 quilômetros para alcançar o centro do município de 184 mil habitantes e 27,5 mil veículos cadastrados pelo Detran. À tarde, o fluxo se inverte. EM ILHÉUS, SÓ HÁ UMA ALTERNATIVA PARA LIGAR O CENTRO DA CIDADE ÀS PRAIAS DO SUL - Nos domingos de sol, dias de intenso movimento nas praias do Sul, de maior frequência, e as do Norte, acesso à paradisíaca Itacaré, a cidade para nos dois sentidos. Assim como no ‘rush do almoço’. É o que atesta o administrador de empresas Carlos Alberto, enquanto arrasta seu Palio placa JRE 5196 na tentativa de vencer o engarrafamento formado por causa da ponte. “O que você está vendo é todo dia. É o preço que a cidade paga por depender de uma única ponte”, diz, por volta das 7h20 de segunda-feira, 1º de agosto. Morador do Pontal, bairro de classe média alta situado na orla da cidade, ele leva até 40 minutos para chegar à praça Visconde de Cayru, no centro, onde está o escritório onde trabalha, trajeto de apenas 2,5 quilômetros. “O pior é que não existe um só agente de trânsito para ajudar”, diz, em meio ao tráfego que, de tão lento, dá para bater papo na boa. (Jairo Costa Júnior e Alexandre Lyrio - Redação Correio).
Val Cabral, o dia que pararmos de ver carros com uma so pessoa trazendo o caos para Itabuna (sobretudo na av. Inácio T. Filho, Fernando Cordier, rótula da ponte do São Caetano...) isso melhora. Para isso é preciso a sociedade entenderr que usar transporte coletivo é viável para todos e não achar q é coisa apenas de classe B e C. A doença do status de mostrar carro ainda impera.
ResponderExcluirItabuna está assim por absoluo egoismo das pessoas:
ResponderExcluirQuando a gente pergunta às pessoas pq elas nao pegam o coletivo, quando reclamam do transito e lugares para estacionar só ouvimos uma resposta "e o meu direito de ter um automovel e também o direito de ir e vir?".
Talvez isto tenha contribuído para o caos no trânsito em que se encontra nossa cidade.
Joselito Brito
Vou trocar o conforto do meu carro, por um transporte coletivo cheio, quente, que demora e tudo mais? Tirando que de ônibus gasto 40 minutos indo pro serviço, enquanto que de carro, apenas 10 minutos. O dia que o transporte coletivo for digno de ser usado, com certeza deixarei meu carro. Wellington Monteiro
ResponderExcluirÉ bastsnte oportuna esta matéria. Itabuna não só está travada, como também mal-tratada, sem direção. É inadimissível a gente contemplar a maior cidade do sul da Bahia, com um transporte ridiculo, com ruas esburacadas e estreitas, sem viadutos, sem Zona Azul, sem edifício garagem, com projetos em andamento e abandonados por birra política e má vontade entre governantes e oposições. Por falar nisso, nossa cidade não tem prefeito, não tem deputado federal, não tem governador, não tem presidente da república, não tem vereadores... socoooooooooooooorro!
ResponderExcluirO Colapso no trânsito da nossa Itabuna está mais próximo do que se imagina.
ResponderExcluirMas isso é somente pela falta de investimento na área e absoluta falta de autoridade do prefeito e seu secretário de trânsito.
Gutemberg Matos
Peçam para o Sr. Wesley Melo trafegar pelo entorno do cemitério, no horário de pico em que estejam acontecendo velório de pessoas conhecidas na cidade, para ele ver que há necessidade urgente esse percurso ter uma alternativa que acabe com o caos ali. Marcelo Batista de ALmeida
ResponderExcluirO problema é a má-educação e a falta de conhecimento das leis de trânsito. Para piorar, a estrutura viária da cidade é tosca.
ResponderExcluirTODO mundo quer ter seu carro. meninos (para mim, 18 anos ainda são meninos) ganham carros de seus pais apenas para ir estudar... tem que melhorar o transporte coletivo e TEMOS que utiliza-lo, deixando o status quo de lado...
ResponderExcluirWilson Novais
Itabuna já estar mais do que na hora de implementar o rodízio de veículos a cidade tem horas que fica totalmente parada, independente do horário. Valdir Rebouças
ResponderExcluirMeu amigo Val Cabral, você tem um grande coração. Mantenha-o cheio de felicidade. Você tem uma mente fascinante. Continue firme em seus propósitos. Continue tentando fazer Itabuna era uma cidade mais agradável e humana. Continue agindo com dignidade e continue lembrando que o carinho e a admiração do povo itabunense, seguirá sempre com você aonde quer que você vá.
ResponderExcluirLuciene Cavalcante Galvão da Silva
Lú