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5 de julho de 2011

OS ÉBRIOS SÃO SEMPRE INFELIZES E SOLITÁRIOS

Ubaitaba. Quinta-feira. Primeiro dia dos festejos de São João. A mais escura e, espiritualmente, negra das horas da noite havia passado. Eu me preparava para entrar na casa do radialista e meu anfitrião Jackson Cristiano para tirar uma soneca, quando o silêncio é quebrado pela voz em canto, cansada e suplicante, de um ébrio solitário que estava passando pela calçada daquela rua. Fiquei ali na área para ver o que acontecia. Ao longe, vislumbrei alguém em pé na calçada que, desordenadamente, alternava versos de violenta revolta com soluços de pranto em tom de gravíssima dor. A cena me comoveu a tal ponto que fiquei olhando, por mais de uma hora, os tombos causado pela embriaguez do solitário seresteiro e escutando o que, repetidamente, sem violão ou outro qualquer instrumento musical, a chorar cantava. Por que aquele homem estava ali, totalmente embriagado, naquela madrugada fria, chorando e cantando desesperadamente? Ali estava, qual náufrago que não deseja se afogar, a espera de quem lhe estendesse a mão e o salvasse para que, também, pudesse salvar. Ali estava, qual menino doente e com fome, a aguardar a cura e o alimento. Ali estava, qual desabrigado e indigente, pois há muito que a cheia levou sua casa, e apesar das promessas, ele e sua família ainda moram num desprezível abrigo ou infame barraco de lona e vivem na mais absoluta miséria. Ali estava, qual lavrador de cacauais, a sonhar com a chegada do doce vento de uma sociedade mais igualitária. Ali estava, qual cordeiro preso no curral, impaciente por não ter encontrado o pastor que lhe mostre o caminho da libertação e não o do holocausto. Portanto, não achei estranho que utilizasse a linguagem da dor e da angústia e pedisse como presente a morte: ela, com certeza, o aliviaria da vergonha e do sentimento de fracasso, pois ele não tem mais nada, a não ser as drogas que o consome e o faz escravo dos outros e dele mesmo. Para que dizer que está vivo se não sabe o que é viver e nunca conheceu a felicidade? Se só sabe o quanto é amargo o gosto da tristeza e do sofrimento? Se o presente que mais deseja é um abraço para o além? Se todo dia clama a um Deus misericordioso e seus lamentos não são ouvidos? Senhor Deus, não deixe os ébrios tristes e solitários que cantam e soluçam nas madrugadas frias e incineram o chão com lágrimas de fogo tão sós e desesperados. Para libertar todos os teus filhos, injustiçados e escravizados, manda desta vez um messias de comportamento guerreiro e que tenha como objetivo a revolução através de golpes de baionetas, pois só com essa nova fé renascerá a esperança em outras estradas a serem trilhadas.

Um comentário:

  1. Esta reportagem disse tudo o que realmente há de verdade e serve para alertar as pessoas sobre os riscos do alcóolismo.
    Fernando Góes

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