Prefeitura Itabuna

Câmara

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25 de maio de 2010

SELEM RACHID: ITABUNA ESTRESSANTE

Estas são exigências antigas ativadas no mundo moderno: abastecer sua cozinha para ter a comida sabor caseiro; ter e conduzir seu carro a serviço, compra ou passeio; cuidar da própria saúde ou da de parentes; tratar diretamente de transações econômico-financeiras em estabelecimentos apropriados. É natural que todo cidadão adulto tenha o desejo, a possibilidade, a necessidade ou o direito de: comprar seu alimento onde melhor lhe convier; ter e dirigir seu carro pela cidade; consultar um médico, internar-se num hospital; resolver problemas bancários não pela internet, mas pessoalmente, em uma agência da cidade. Mas não! Em Itabuna, não é natural! Município muito importante para a Região Cacaueira e quase nada para o atual Governo do Estado, essas quatro possibilidades, desejos, necessidades e direitos são complicados de resolução, de levar a termo a não ser que você cidadão, cidadã estejam dispostos a se estressarem, ou, se já estressados, experimentem as raias do risco de vida (ou de morte). E só são permitidas no discurso as palavras ética, justiça e cidadania. Verá que elas são devaneios e temas interessantes para farofas de seminários e congressos estudantis de Direito. A prática e o mundo atual as imolaram. O HIPERMERCADO - Lá se foi o Messias, grandioso, orgulho itabunense, braços longos, onde a alegria de compara nele envolvia a família “tem de tudo”, carrinho montaria das crianças. Depois de muitos anos testemunhamos uma tristeza. Agonia, decadência e morte causada por insondáveis e por pouco explicáveis motivos. Garrafas de litro de coca-cola escondiam as prateleiras vazias. Morreu. Também na lembrança de nossos hoje adultos filhos, hoje universitários, doutores. Os pais, motoristas dos carrinhos pouco se lembram. Veio seu substituto: Hiper Bom Preço no ano 2000, parte do Shopping Jequitibá. Muita propaganda, muito folhetim, guerra constante e não muito ética com o Itão. Seu nome carregava sua proposta. Bom Preço. Mudou de mãos, mas não mudou (ou piorou) no quesito básico: atendimento. Filas para idosos, grávidas e deficientes. Um trio cada vez mais freqüente, acrescido de espertas gorduchas e adultos de precoces cabelos brancos ou calvas gritantes. Por vezes só existe a placa, não as vagarosas caixas. A lei permite mas não é aconselhável atravessar aquela filona geral. Olhares e resmungos dos nervosos clientes desestimulam quem pensa fazê-lo. Você se acha inteligente e chega nos primeiros horários pela manhã. Tantos pensam como você e as filas matinais cresceram. Aí lhe dizem que de nove às onze horas da noite está vazio. Mas falam para tanta gente que foge do estresse e busca a noite. Também antes das onze horas aparecem as aborrecidas filas. Poucos caixas, que param para trocar de turno. Param aguardando o único superior responsável em resolver dúvidas, mexer na caixa registradora alterando números. Ele é um cara especial e demorado. Sempre vou buscá-lo quando tudo para, e a fila aumenta. O caixa para quando o preço da propaganda é maior que o da prateleira, ou o da prateleira é menor que aquele afixado no produto codificado. Contestado o caixa, este envia alguém pra conferir. A checagem é lenta e estressa os da fila. Drama é quando o caixa para pra empacotar a compra (“ele bate o corner e vai pra área cabecear”). Ele tem duplo papel e um só salário. É explorado! Outro fato: não sei se é legal, mas muitos daqueles funcionários só trabalham quatro horas e só recebem equivalente às horas trabalhadas (meio salário). Coitados! Eles também são vítimas desse capitalismo nojento, praticado por brasileiros, holandeses e espanhóis desumanos. Por vezes clientes brigam e desabafam nesses caixas. Reclamar? Sindicatos, Direito do Consumidor, Câmara de Vereadores, todos impotentes. Estressados e impotentes. OS CONSULTÓRIOS E OS HOSPITAIS - É sabido: Itabuna é pólo médico. Nela trabalham mais de 300 médicos na ativa em seus consultórios, clinicas e hospitais. Um exército de enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos são coadjuvantes dos Doutores. Hoje, para se marcar consulta médica, mesmo através Planos de saúde, “só no próximo mês”. E olhe lá! Por vezes a secretária avisa “só tem vaga pro próximo semestre”. Não me refiro aos médicos de ponta, daqueles raros que quase todo mundo fala bem. Mesmo aqueles que quase ninguém fala bem “é só pro mês que vem!”. Você sai estressado da luta pela marcação e se seu estresse se casa com a doença motivo da busca de um médico da área e você continua vivo até a data da consulta, você se sente feliz. A espera na sala é demorada e as cadeiras são insuficientes. Você lê revista velha e rasgada do ano anterior. Olha pro chão ou pra cara do desconhecido que fala sobre a doença dele pra todo mundo escutar. O cara ao lado atende ao celular como se estivesse na casa dele. Sem segredos. Tome-lhe estresse. É preciso internação e você tem um plano de saúde especial que lhe permite ficar só num quarto, com seu acompanhante. Certamente não haverá vaga, os leitos todos ocupados. Finalmente aparece a vaga mas seu plano é ignorado, você ficará com parceiro doente, no mesmo quarto. E dê-se por feliz. Se não, a outra opção é ficar em casa aguardando. Você dá graças a Deus e vai trocar roncos e gemidos com desconhecido companheiro de infortúnio. CIDADE ENGARRAFADA - Já escrevi sobre o drama do itabunense que precisa sair de carro pela cidade. Se idoso nunca vai encontrar vaga de estacionamento em horários comerciais. Elas são em número menor do que manda a lei, ocupadas quase sempre por jovens, adultos não idosos ou por comerciantes vizinhos dela, por todo o dia. Não há fiscalização. Não são suficientes os espaços das ditas vagas de Zona azul. Há facilidade na aquisição de veículos (crédito fácil e farto), prestações a perder de vista, competições de modelos a preços razoáveis, elevação do número de carros na família, filas nas laterais das ruas para estacionamento da Zona Azul, espaços reservados para garagem, prédios públicos, desembarque, tornam complicado o trânsito e o estacionamento em Itabuna. Como conseqüência, os engarrafamentos nos moldes das capitais. Não só na Ruffo Galvão, Ignácio Tosta, Beira Rio ou recentemente na Cinquentenário. Também em locais nunca dantes engarrafáveis. O trânsito de Itabuna está deixando loucos e estressados os normais, coisa de doido. O fluxo do centro da cidade nada mudou em décadas, me relata alguém. O caminho virou rua e é o mesmo da antiga entrega do cacau no armazém: aí pelas décadas de 40 e 50 as tropas de burro saiam ali do Berilo, atravessavam a Paulino Vieira pra desafogar as sacas no Correia Ribeiro, ali na Cinquentenário, onde hoje é o Bradesco. Mudaram-se os nomes, não as ruas. E as autoridades nunca se preocuparam com um plano inteligente acompanhando o crescimento e a importância da cidade. OS BANCOS - Esses são importantes, importantíssimos em nossos dias. Bradesco, Itaú, Brasil e Caixa, espaços privilegiados, marketing inteligente, vistoso, convincente. Sempre o cliente está satisfeito com as vantagens oferecidas a eles. Uma pena essas ferramentas bonitas, o Marketing, a Publicidade e a Propaganda criativos com o objetivo de usar a Comunicação de Massa para divulgar a mentira. Nesses últimos dez anos, nunca os bancos lucraram tanto e trataram tão mal seus clientes. Cobram tudo. Exploram os seus insuficientes funcionários: se não cumpriu meta, olho da rua. Mas, o pior de tudo são as filas e a não obediência às leis. O chamado setor bancário não obedece à lei das filas. O Procon, a Câmara, são fracos para julgar os bancos, mais ainda para puni-los. Constrangido, humilhado, estressado, assaltado à saída do banco, quase sempre a partir de informação de dentro do estabelecimento, o coração do medroso e estressado cliente sofre. Ele por vezes dá graças a Deus por que as casas lotéricas lhe facilitam a vida desafogando operações mais simples de pagamento. Creio eu que os Barões dos Bancos pensam assim: “se o Presidente ignora direitos, a lei eleitoral, debochando dela, por que EU, dono da “bufunfa” devo acatá-la? Tome-lhe a concorrência bancária divulgando lucros crescentes, falsas fotos onde VOCÊ é o MEU REI, manda em tudo, em colorido. Depois de três horas, você volta pra casa com fome, suado, exausto e P. da Vida, rabo no meio das pernas, cabeça baixa, estressado como nunca. Só pensam neles, esses bancos mentirosos... A SOLUÇÃO - Não tem solução. Nós de Itabuna estamos certos que a saúde, o trânsito e os bancos continuarão bombeando estresse para seus freqüentadores. Teremos redução do estresse na comida. Alguém punirá o Bom Preço pelo abuso, deboche, pela filas? Nada disso. O consolo está na chegada de novos hipermercados junto a Itabuna. É que além de o Itão colocar filial no início do segundo semestre no local do antigo Messias, prometendo inovações, retirando parte da clientela do vizinho Bom Preço, mais novidades chegarão até dezembro em iniciativas particulares. Na saída (boca) de Itabuna dois famosos Hipermercados preparam terreno. Estão a um quilômetro do Condomínio Jardim das Acácias, e a 24 quilômetros de Ilhéus, em território dessa cidade. Trata-se do MACRO e do ATACADÃO (CARREFOUR), Conquista e Eunápolis falam bem da chegada do Atacadão. Nós, consumidores, teremos seguramente melhor opção que o desaforado e desatencioso Bom Preço. Conforto, atendimento e preço melhores nos trazem menos estresse. Falta inteligência ao trânsito. Nossos médicos e hospitais, uma pena, continuarão congestionados, falida que está a saúde das pequenas cidades. O sistema bancário, desafiador das leis, só tem sensibilidade para seus bolsos, são os grandes clientes da propaganda. Por outro lado, com baixo nível de criticidade, pouco politizado (ao contrário de Conquista), o Itabunense é cordeiro, cordato, sem consciência associativista é conformista, sem saber protestar seus resmungos estressantes, convivendo com a violência galopante, tema deixado de lado nesse artigo. Todavia, há outras formas de violência sem sangue, mas nem por isso tão sutis, na Centenária Itabuna, dos engarrafamentos, das filas dos bancos das esperas nos médicos e na saúde. Que venham os hipermercados para nossa ITABUNA ESTRESSANTE. (Selem Rachid Asmar - doutor em Sociologia pela Universidade de Paris e Diretor–Presidente da Selem Sondagem de Opinião).

5 comentários:

  1. Caro Val Cabral

    Muito bom este artigo do Selem Rachid Asmar.
    O estresse é realmente um mal que se instalou em Itabuna e a perspectiva é da coisa ficar muito pior.
    Eu mesmo não me stresso por qualquer coisa. Mas violência me stressa bastante, ligar a tv e ver as barbaridades que acontecem, injustiça também me stressa, inveja, pessoas mentirosas. Não suporto nada disso.

    Antonio Machado

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  2. A CAUMA É O INIMIGO DA PERFEIÇÃO" pra mim pode ser intendido como O ESTRESSE É O INIMIGO DA PERFEICÃO".
    SANDRO COSTA

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  3. Professor Selem, levando em conta o fato de eu ja ter nascido estressada...rsrser
    Acho que uma das coisas que mais me tiram do serio é a falta de educação de certas pessoas...
    Mário Tavares da Silva

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  4. Selem, tudo isso ai que tu falou sobre os pontos mais estressantes de Itabuna é verdadeiro e ruim..... mas tem também outras coisas ruins em nossa cidade... falsidade, brigas, coisas pra estressar não faltam.... + eu nem me estresso pelo menos tento ao máximo não me estressar .... porque primeiro não vai resolver nada e segundo que estresse faz mal.... depois vc tem que q desestressar de novo ..... não vai adiantar nada....
    Wellington Araújo

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  5. Nota MIL para este cidadão intelçigente, útil e que sabe como ninguém, expressar o sentimento deo povo da região cacaueira. Carlos Cordeiro

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