Prefeitura Itabuna

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31 de maio de 2010

ITABUNA ILUSIONISTA

Não são ilusionistas somente pessoas ou mesmo determinados campos do conhecimento não necessariamente científicos. Com isso quero dizer que há outras formas de fazer uso das imagens ou falas e ter interpretações, conclusões ou percepções, não corretas, distorcidas, absorvendo falsas aparências. Podem enganar-se aqueles que fazem a leitura de um fato, momento, uma relação ou objeto, se seus sentimentos ou mentes não utilizam das lentes (simbolicamente) de forma adequada. Trata-se de uma habilidade e sensibilidade que não estão ao alcance de todo cidadão, empanando a realidade. Objetivando e focando o tema, temos a cidade de Itabuna e seu poder arrebatador do ilusionismo, mascarando a “Itabuna estressante” ocultando os dramas da saúde, da água, do esgoto, do crack e outras violências. O forâneo, ao julgar Itabuna é seduzido pela procissão de gente nas ruas, pelos milhares de carros circulantes, pelo comércio pujante e pelo diversificado setor de serviços. A fotografia registrada pelos desavisados olhos é de uma pequena capital brasileira ou do Nordeste. Essa imagem acompanha Itabuna desde meados da década de 50, quando Itabuna ultrapassou Ilhéus em vários setores. A característica marcante e nada dignificante da inadimplência foi adquirida e reforçada pela década de 60 criando e espalhando a desagradável fama (“gostei muito do senhor e da sua senhora, me desculpe, nada pessoal, mas eu não aceito cheque de Itabuna”. Falou-me um negociante de Fortaleza). Nem a inadimplência enterrou a porção Itabuna ilusionista, progressista,admirada. O final da década de 70, com os três últimos anos de boa produção e ótimos preços do cacau, criaram-se excedentes e se deu início a uma ainda acanhada iniciativa nos novos edifícios. Após a década de 90, década perdida, letargia nas ruas, fuga de agências de automóveis, Itabuna em anomia e sem referência, viúva despreparada do cacau, a cidade ganhou um ousado shopping. Em 2002 veio a FTC e em 2004 a atual UNIME, dando chance aos coroas e aos filhos de pais quebrados ou medrosos de não enviar os filhos a Salvador. Mais fortemente no segundo lustro dessa década apareceu a febre das construções, dos apartamentos, onde se destacaram a E.H.M Construtora e a WA Engenharia. Chegamos aos anos 2000, cresceram paralelamente as construções, as casas, os edifícios com elevador e os prédios menores, e a violência sem limites, entrando nos noticiários do país. Curioso, mas a violência e a fama de cidade violenta em nada atrapalharam a onda “construtivista” que deve perdurar por mais anos. POR QUE ISSO? - O “BOOM” DA CONSTRUÇÃO: Lembro aqui alguns dos motivos: A tendência de forte incremento na construção e venda se deve ao crédito fácil e farto. Os novos prazos enormes. A economia está estável, inculcando a crença do comprador no futuro; O novo “boom” imobiliário além de alcançar todo o País, abraça também todas as classes sociais; Os juros baixos (até 30% do orçamento familiar) permitem prestações parecidas à mensalidade do aluguel; Aconteceram mudanças legais no sistema financeiro e nos bancos (Caixa e Rede Particular). Reprimida, a demanda é enorme; Os Feirões Imobiliários da Caixa (foram 122 construtoras e 101 imobiliárias no último) reduzem a burocracia, dão velocidade, agradam ao comprador dando grande injeção nos negócios; A valorização da compra de um imóvel do ponto de vista do investimento é de o dobro ou mais, muitas das vezes se pronto, mas ainda não habitado. Muitos compram vários, na planta, como ótima aplicação do dinheiro; A qualificação, através de cursos acessíveis a mais corretores, permite uma rede, combinando antigos e novos, profissionalizando e agilizando o mercado de imóveis. Se todos esses fatores levantados afetaram Itabuna, motivos aqui localizados incrementaram o negócio de imóveis habitacionais; Na Região Cacaueira a produção de cacau baixou de 2/3 e já não vale ter a fazenda nos moldes tradicionais. Descapitalizados e com insumos e mão-de-obra a preços crescentes, modernizar a fazenda ficou difícil e desanimador para investir nela; Os filhos desejam continuar os estudos e os pais aprovam, preferindo que eles fiquem por perto. Em Itabuna ou Ilhéus há chance de escolha do curso no grande leque oferecido por aqui. Se antes compravam apartamento em Salvador agora mainha passa alguns dias ou vem morar com os filhos mais algum parente universitário, em Itabuna; Os aluguéis e a taxa de condomínio em Itabuna encareceram mais que em outras cidades similares baianas ou sergipanas. Vale à pena adquirir um imóvel pela sua valorização e utilidade sem pagar aluguel, pagando à vista ou não; Os pequenos municípios da Região estão quebrados e investir em construção neles (exceção de Ipiaú) não é inteligente; Aplicar no mercado financeiro o excedente do dinheiro (ou da venda) a juros abaixo da inflação, também não é inteligente: imóvel é mais seguro. A BAHIA E ITABUNA: O PARADOXO: Dados recentes do Ministério do Trabalho e do Emprego revelam que a criação de novos postos de trabalho com carteira assinada foi recorde, em abril. Nos 12 últimos meses a Bahia criou mais de 100 mil empregos. Em abril a agropecuária baiana saiu na dianteira com 3.510 empregos (deduzindo-se os desempregados), seguindo-se a construção civil com 2.600 novos postos, 2.341 para a Industria de Transformação, o Setor Serviços 1.436 e o Comércio 518 trabalhadores. O interior do Estado contribuiu com 72% desses novos empregos e 28% criados pela grande Salvador. Sabem quais foram os cinco primeiros contribuintes para esse número, fator de orgulho pro Estado? Pela ordem, Salvador, Teixeira de Freitas, Juazeiro, Feira de Santana e Alagoinhas. Espanta-nos que Itabuna, a despeito de sua posição na economia do Estado, da evidente fase “encantadora” na construção civil, perde até para Alagoinhas e outros os primeiros lugares na empregabilidade baiana. Sempre afirmei mesmo sem ter números que, a despeito de Itabuna gerar uma massa salarial respeitável, somando-se e formatando o grande bolo pago pelo trabalho dos empregados do comercio e dos serviços, a cidade é de difícil oferta de empregos e os salários ofertados são baixos, muito baixos na média, quase sempre próximos ou amarrados ao salário mínimo. Grandes lotes de administradores e de economistas liberados pelas faculdades da Região ou não, não têm lugar no nosso mercado. Quando me caiu às mãos os orgulhosos dados estatísticos da Bahia como um todo, me permitiu compará-los aos de Itabuna. Que decepção! O fato de Itabuna não participar dos cinco maiores empregadores recentes, era só a ponta do Iceberg. Não fiquei alegre por ver que minha percepção se encaixava com a realidade dos números da mesma fonte. Se a Bahia está alegre olhando para seus números desse ano e dos doze últimos meses, não se pode dizer o mesmo para Itabuna. Em abril Itabuna criaram-se minguados 46 novos em pregos com carteira assinada. Ilhéus dá dó registrando 11 novos postos de trabalho. Repito, a grande Salvador é responsável por 28% desses empregos do estado. Com significativos 72%, o interior se apresenta, apesar da pequenina significância do eixo Itabuna-Ilhéus. A explicação do sub-registro com carteira assinada foge à realidade, é falsa, por que a forma de captar esses números é sempre a mesma e antes a realidade era menos ruim. Quem financia exige dados reais. O que choca mesmo em abril é a queda de emprego no Setor de Serviços: foram desempregadas 489 pessoas e empregados 415, resultando em perda de 74 postos de trabalho. Já o comércio teve saldo negativo de um só emprego. A tendência de paradeiro e fraco comércio e serviços em Itabuna é a comparação dos doze últimos meses, incluindo abril: foram criados em um ano, 884 postos, quando parte desses meses estavam no tempo da “marolinha”. Mas, se considerados os 12 meses anteriores a abril de 2009 logo em plena crise mundial, Itabuna criou 1380 empregos, quase 40% a maior. Logo, se concluiu que a bruxa também montou barraco na cidade, nos serviços e no comércio de Itabuna. Como nesses 24 meses o registro de carteiras assinadas e o “animus” dos construtores é o mesmo (aí estão incluídos os planos habitacionais do Governo e de particulares) pressupõe verdadeiros os números. Também nos últimos quatro meses o setor Serviços apresenta saldo negativo (126 empregos negativos). Só a construção civil apresenta a “maravilha” de saldo positivo de 296 novos empregos nesse quadrimestre. A ILUSIONISTA ITABUNA: As Faculdades, e Shopping criados, mais ainda a onda das construções nos conduzem a uma visão enganosa da situação econômico-financeira de Itabuna e seu crescimento. Espigões e prédios são de fato uma grande proeza nos roubando a criticidade. Entrevistas informais nos permitem dizer que nesses próximos 12 meses o número de imóveis a serem colocados no mercado de Itabuna para a classe média e baixa (só há sete representantes da classe alta e eles nada representam como clientes) terão 2000 ou mais imóveis para sua decisão de compras. Quem sabe se ajustarmos nossas lentes veremos que a construção civil vai muito bem, mas a economia de Itabuna vai mal. Basta conversar com um comerciante da cidade para se ter esse sentimento. Em Vitória da Conquista a venda no varejo supera a soma do equivalente para Itabuna mais Ilhéus. Também aquele município supera nossa dupla na soma do seu cimento consumido. Essas informações só servem para derrubar nossa ilusão. Juazeiro já nos passou em população e nos novos empregos. Teixeira de Freitas no emprego. Creio que ao término dessa década estaremos abaixo delas no geral, como se deu com Conquista. E NÓS ACHAMOS QUE ITABUNA É A BACANA... Já escrevi que, não acredito no Complexo Porto Sul como empregador ou alavancador da Região. Exportação de matéria prima não melhora ninguém. No passado: já concluíram Celso Furtado e Caio Prado, no século passado. Por que, você centenária Itabuna, esconde com seus óculos de sol das construções suas marcas e cicatrizes: dos baixos salários; do desemprego e dos pedintes; da superlotação e má gerência na saúde; da violência com sangue beirando dois dígitos semanais; dos engarrafamentos das ruas; dos bancos; do hiper Bom Preço; da falta d’água e de esgoto; da ditadura do crack? Por tudo isso, coloco em você, no seu dissonante centenário, o rótulo ITABUNA ILUSIONISTA. (Selem Rachid Asmar - doutor em Sociologia pela Universidade de Paris e Diretor–Presidente da Selem Sondagem de Opinião).

Um comentário:

  1. Belissímo texto, a pura realidade da nossa cidade!

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