SOCORRO! A EMASA...

“Quando comerciantes fecham o banheiro de suas lojas e

passam a comprar galões de água mineral para todos os

serviços, mesmo de higiene, há algo errado”. “Há algo

errado quando a nossa conta de água se apresenta

superior ao valor da conta de energia.”

(Selem Rachid Asmar*).

Moro há 40 anos em Itabuna e nunca vi crise igual. Mas, a população ainda não acordou para o fato. De que valem os altos preços em dólar do cacau, se a produção é baixa, a violência assusta, a saúde é deficiente, o esgoto é insuficiente, as ruas são estragadas e a droga grassa tranquilamente? Os itabunenses fazemos parte do carneirismo, isto é, seguimos juntos, todos nós, passivamente, sem reclamar, sem buscar direitos, mesmo se decisões de particulares ou daqueles no poder passageiro nos desagradem, nos maltratem, nos diminuem como cidadãos, nos fazem sofrer no corpo, na alma. Vou me rebelar, enquanto sociólogo e cidadão itabunense. Assistir coisas erradas, abusos e calar, pode dar câncer, e, para mim, basta só um. Falo sobre o líquido precioso chamado água (H20), especificamente sobre o custo da água de Itabuna, distribuída pela EMASA. Inicio minha revolta perguntando aos dirigentes da EMASA: esses contínuos aumentos abusivos, escorchantes no metro cúbico de água, caladamente, se devem à necessidade de ampliação de 600 para 1000 litros por segundo, elegendo o consumidor como financiador dos custos das obras, das ações, ou é uma iniciativa tipo Robin Hood, retirando dos “ricos” (classes médias), para dar aos “pobres” (Classes baixas), sobretaxando em “cascata ascendente” de forma gulosa, absurdamente, aqueles de maior consumo? - Exceção ao carneirismo apontado, apareceu uma lista angariando assinaturas, em mesa colocada na Avenida Cinquentenário, ação de um Vereador, pedindo intervenção do Ministério Público, o Vereador como eu, está indignado, e cumpre seu papel. Também um radialista está inconformado. Outra pergunta que vale ser colocada: será que esses aumentos cavalares, muito acima da inflação, sem planilhas de demonstração de custos expostas, sorrateiros, não seria abuso de poder, ganhando pontos com o executivo municipal? Não acredito que este tenha compactuado com seu diretor, pois humanidade não lhe falta. A pergunta se baseia no tradicional uso da EMASA como instrumento de promoção e vazamentos de suas funções, a serviço da política. Não acredito que os aumentos em correlação direta com o consumo, tipo: quanto mais consome, maior é a sobretaxa sejam para inibir o consumo individual e evitar desperdícios, seja como mecanismo de controle do consumo geral da água sabidamente rara, pois, se assim o fosse, a medida coercitiva seria fartamente vulgarizada e explicada no rádio, TV, jornais, em cartazes e frases nas paredes das casas recebedoras. Por outro lado, está provado, através de exames quase recentes, que os componentes químicos existentes em nossa água de consumo não permitem um produto de tão boa qualidade como se propalou e virou mito, quando comparada a outros locais, pois em muitas casas a água chega de cor amarela. O mito da excelência foi por terra... A sede de aumentos mostra que, sempre que há elevação dos preços da água ao consumidor, também há aumentos dos preços das sobretaxas em escalas variáveis. Saindo para demonstração prática, trarei duas tabelas: uma sobre as faixas cobradas por metro cúbico excedente à taxa mínima em reais. Outra tabela representa o consumo dos seis últimos meses quanto o autor desse artigo pagou no geral, e os aumentos em dois momentos de consumos iguais, logo permitindo comparações, deixando claro os percentuais gritantes de aumento do metro cúbico.

TABELA 1. Custo da água em metro cúbico, por faixa de consumo. CONSUMO (m3) CUSTO ( em reais)

0 – 10 12,56 (taxa mínima) 11 – 15 3,54 (por cada unidade de m3) 16 – 20 3,69 ((por cada unidade de m3) 21 – 25 4,04 (por cada unidade de m3) 26 – 30 4,67 (por cada unidade de m3) 31 – 40 5,49 (por cada unidade de m3) 41 – 50 6,68 (por cada unidade de m3) Mais de 50 8,24 (por cada unidade de m3)

Pensam em novo aumento para outubro/09.

• Quando se trata de prédios e edifícios há a divisão pelo número de unidades para calcular o excedente e sobretaxá-lo. • A Tabela 2, a seguir, mostra a evolução do consumo, no semestre, de minha própria residência, sendo computada somente a água, sem taxa de esgoto. • Em abril e maio/09, o consumo em m3 é parecido, logo os excedentes estão na mesma faixa de consumo (entre 31 a 40 m3), pagando preços quase idênticos, pois. • Quando comparo o consumo de junho com o anterior, em maio consumi 20 m3 a mais, pagando o dobro em reais (de R$ 99,69 passou para R$ 183,33), subindo o m3 excedente de R$ 2,77 para R$ 3,27. Este resultado foi obtido da divisão do valor em reais pelos m3 consumidos em cada um desses meses. • O consumo de Julho é quase igual ao de Maio (mesma faixa e o m3 excedente subiu de R$ 2,77 para R$ 3,53). Paguei R$ 123,44 em Julho e em Maio R$ 96,69, um aumento de 24% em consumos semelhantes. • Mas, o chocante mesmo é a comparação do recibo de 15/06 com o de três meses após, (90 dias somente em 15/09/09). O consumo foi o mesmo, de 56 m3, mas o preço cobrado em 15/06 foi de R$183,33, enquanto neste 15/09 paguei R$ 263,40, logo, tive um aumento de 43,7%, quase 50% de uma só vez. • TABELA 2. Contas de água de abril a setembro de 2009 (semestre). Residência do autor, sem computar taxa de esgoto. DATAS CONSUMO (m3) CUSTO (m3) VALOR PAGO (em reais) 15/04 37 2,71 100,51

15/06 56 3,27 183,33 15/07 35 3,53 123,44 15/08 40 3,68 147,16 15/09 56 4,70 263,40

CONCLUSÕES:

• O custo da água paga pelo itabunense é alto; cresce silenciosamente duas ou mais vezes ao ano, muito acima da inflação; • Não há demonstrativo de planilha de custos, nem junto à Câmara, menos ainda para vistas e observações do consumidor, este, ignorado totalmente; • A EMASA não leva em conta a enorme crise, que os espigões são um falso indicador que “Itabuna vai bem” e verdadeiro em Vitória da Conquista e outros centros muito mais dinâmicos. O Banco Itaú não empresta mais dinheiro a uma cidade onde seus habitantes têm na ponta da língua a conjugação do presente do indicativo do verbo inadimplir. • Ignora a EMASA que o comércio vai mal, não há emprego, os salários são baixos. A EMASA “se lixa” para essa realidade; • Quando comparados consumos idênticos de 15/05 (36 m3 custo 99,69 reais) com 15/07 (35 m3 custo 123,44 reais), da mesma faixa de excedentes, há um aumento do preço da água de 24%. • Se comparados no espaço de 90 dias os 56 m3 de 15/06 com os mesmos 56 m3 de 15/09, vemos que os 183,33 reais passam para 263,40 reais, acusando um novo aumento de 44,7%. Um disparate. • Logo, sem razões explicitadas, provocam dois ou mais aumentos, constrangedores, no mesmo ano; • O bom trabalho do Senhor Prefeito, nos últimos meses, nos bairros de Itabuna poderá ter seu conceito diminuído, levado pela enxurrada de desacertos da EMASA. • A conclusão final é que, este sociólogo-cidadão inelutavelmente consumidor e cliente da EMASA, ao deixar de ser carneiro, considera a orientação do órgão autoritária (forma); fazendo vista grossa para com o contexto e as classes baixa-alta e médias (conteúdo) em seu poder de compra, além de despreocupada com o futuro (subconsumo em desacordo à necessidade da família, desespero, gatos,etc). • Também nesta “fabula” (para quem a conhece) o Lobo (promotor dos aumentos) não tem razão em relação ao Cordeiro (consumidor).

(*) Selem Rachid Asmar

doutor em Sociologia

Diretor Presidente da SELEM SONDAGEM DE OPINIÃO.