A disputa para governador na Bahia em 2026 aponta para um cenário que se repete há sete eleições: a polarização entre o carlismo e o petismo. No próximo ano os dois grupos políticos deverão se enfrentar nas urnas, na oitava disputa direta entre as duas forças. De um lado, o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT), que vai tentar a reeleição, e do outro o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), que foi derrotado em 2022 pelo petista.
Jerônimo Rodrigues e ACM Neto
lideram a disputa, em empate técnico em todas as simulações para a corrida ao
Palácio de Ondina, de acordo com as mais recentes pesquisas feitas pelos
institutos de pesquisas. Ambos aparecem à frente de nomes como José Carlos
Aleluia (Novo) e Kleber Rosa (Psol). Percentuais com empate técnico em torno de
44% para os líderes e Aleluia com Kleber empatando com 2% em média!
Na primeira vez em que carlismo e petismo se confrontaram
diretamente, em 1998, César Borges, do grupo político do ex-governador Antônio
Carlos Magalhães, avô de ACM Neto, derrotou o petista Zezéu de Abreu e o
pedetista João Durval Carneiro no primeiro turno. No pleito seguinte, em 2002,
foi a vez do carlista Paulo Souto retornar ao poder derrotando também em
primeiro turno o então candidato Jaques Wagner (PT), atual senador, e Prisco
Viana (PMDB).
Nas eleições de 2006, foi a vez de o PT impor derrota ao
carlismo no Estado, com a eleição de Wagner em primeiro turno contra o carlista
Paulo Souto (PFL na época) e Átila Brandão (PSC). Desde então, os petistas
governam o Estado há quase 20 anos. Caso Jerônimo seja reeleito em 2026, o
partido terá permanecido, ao fim do eventual mandato dele, no comando do
Executivo baiano por 23 anos, entregando um resultado político significativo
para a legenda nacionalmente.
Jerônimo foi secretário estadual de Educação e chefiou
também a pasta do Desenvolvimento Rural, na gestão de Rui Costa (PT), atual
ministro da Casa Civil. Professor universitário e engenheiro agrônomo, o
petista era um rosto desconhecido para a maioria do eleitorado baiano até
estrear no pleito de 2022. Já ACM Neto representa o carlismo, grupo político
formado em torno do seu avô Antonio Carlos Magalhães e que faz oposição ao PT
no Estado. Ele foi deputado federal de 2003 a 2013 e eleito duas vezes prefeito
de Salvador de 2013 a 2021.
Os
dois políticos deverão enfrentar desafios em níveis variados. Após fazer sua
estreia eleitoral em 2022, Jerônimo enfrenta dificuldades semelhantes à eleição
anterior. Isso porque, apesar de já ser conhecido pelo eleitorado baiano, o
petista ainda precisa consolidar uma marca da sua gestão. A comparação com
outros quadros do partido, como Wagner e Costa, ainda é um entrave para
Jerônimo firmar seu potencial enquanto liderança política.
Em 2026, a oposição irá repetir o discurso adotado quatro
anos antes e explorar o desgaste do PT à frente do governo da Bahia após quase
20 anos no poder e deverá explorar o fato do governador carregar consigo, um
desgaste natural, de um grupo político que já está há bastante tempo no poder. Um
ponto que será abordado pela campanha de ACM Neto é a questão da segurança
pública. Desde que assumiu o governo, em 2022, a gestão de Jerônimo tem sido
criticada pelo aumento dos números de violência.
Além da Segurança Pública, algumas promessas de campanha
não foram para frente. Como é o caso da construção da Ponte Salvador-Itaparica,
que avançou muito pouco nesses quase quatro anos. A questão da segurança
pública permanece, porque algumas políticas adotadas pelo governo estadual como
o Programa Bahia pela Paz não se traduziram em alteração dos indicadores ou de percepção
da população também.
O grupo político de Jerônimo deve repetir a estratégia
utilizada no pleito anterior, apostando na capilaridade do partido no Estado. Nas
últimas eleições, na reta final, o PT virou o que mostravam as pesquisas
eleitorais e se mostrou favorecido por elementos importantes. Como a
capilaridade no Estado, ancorada principalmente nas políticas sociais e de
apoio à agricultura familiar, e o alinhamento à Lula, que também desempenha um
papel decisivo na composição das dinâmicas políticas estaduais.
Já o ex-prefeito ACM Neto concentrou, em 2022, sua
estratégia política em Salvador e nas grandes cidades. Na capital, o
ex-prefeito teve seus dois mandatos bem avaliados e conseguiu eleger o seu
sucessor, Bruno Reis. Naquela eleição, o grupo do ACM Neto se concentrou na
capital e em cidades de maior porte, o que se mostrou insuficiente para vencer
as eleições em 2022.
Outro ponto que acende alerta vermelho na campanha de ACM
Neto é a aproximação de governo Jerônimo com prefeitos que apoiaram a
candidatura do herdeiro do carlismo na eleição anterior. Jerônimo têm atuado
para atrair partidos da oposição para a base do seu governo, como foi o caso do
PDT. A legenda integrava a base do atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (UB),
e abriga nomes de aliados importantes do grupo político de ACM Neto como, por
exemplo, a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, e o deputado federal Léo
Prates. No entanto, após algumas costuras, o PDT desembarcou na base do governo
de Jerônimo.
As movimentações partidárias podem favorecer a candidatura de ACM Neto. Em 2022, após o rompimento do então vice-governador João Leão (PP) com Rui Costa, o PP se aproximou do União Brasil, cenário que deve permanecer em 2026. Para a próxima eleição a ideia seria criar um grupo amplo de centro-direita reunindo também o Republicanos e o PL para fortalecer essa candidatura do ACM filiado à União Brasil. Enquanto isso, o prefeito de Salvador, Bruno Reis também mantém uma gestão bem avaliada, o que favorece a imagem desse grupo.

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