DURMO BEM ENTRE O SANTO E O PROFANO - Habito onde algumas pessoas evitam visitar. E existem aqueles como os advogados Hamilton Gomes e Humberto Campos, que vão a minha casa sem se quer olhar para o muro em frente, pois aí está o cemitério da cidade! Eles se arrepiam de pavor à perspectiva de entrar e até olhar o muro da morada dos mortos. Acontece, que nos fundos do prédio onde resido está o agonizante, mas estrepitoso clube do Pontalzinho, onde festas acontecem até altas horas da madrugada! Não reclamo do espectro funesto e melancólico do cemitério e até me resigno sobre o fato dele acolher os restos mortais da minha saudosa mãe, dos meus avós maternos e alguns primos, primas, tios, amigas e amigos memoráveis. Também não tenho problemas de insônia e nem tão pouco me sinto ultrajado pelo barulho quase que fora de série procedente do Clube que tanto deve propiciar alegrias e entretenimento aos seus freqüentadores. Está tudo perfeitamente razoável neste contexto e até me sinto privilegiado em conviver com os extremos da existência humana. A balbúrdia do Clube encobre o silêncio ensurdecedor do cemitério. Nas cercanias do campo santo, me sinto um jogador do tempo e me esforço para empurrá-lo o máximo possível para além da prorrogação. Na realidade imaginária das festas que ocorre há poucos metros distantes, me vejo motivado a acreditar que a vida persiste e que nada atropela sua caminhada de evitar transpassar a linha divisória existente no plano material da minha casa. A vida permanece ávida no clube, enquanto os mortos se amontoam à minha frente!
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