Este, para mim e, certamente, para meus irmãos e todos os órfãos de mãe, o pior dia do ano. Enquanto a maioria abraça suas mães, nós as visitamos no cemitério. Enquanto quase todos lhes entregam presentes, nós depositamos flores sobre seus túmulos.
Enquanto as mães vivas são
abraçadas, beijadas, mimadas e homenageadas (com toda razão!), as mães que já
partiram para a vida eterna só recebem de nós, seus filhos que aqui ficaram,
lágrimas de saudade. Quem, neste belo e importante dia, não pode beijar sua
mãe, sabe bem do que estou falando.
Tudo se torna demasiadamente
sofrido. Se liga a televisão, assiste-se a cenas de filhos abraçando suas
genitoras. Se vai a restaurantes, vêem-se famílias reunidas, comemorando juntos
a data. Se resolve dormir, pensando que, assim, o dia passará mais rápido,
sonha-se com ela nos mimando e cuidando de nós.
É impossível escapar das lembranças
neste dia. Só nos resta aceitar o fardo de que fomos excluídos da festa. O dia
de hoje é destinado aos afortunados cujas mães estão vivas. Para nós, órfãos
que somos, resta-nos apenas parabenizar as mães alheias, direcionando a elas
nossas felicitações, merecedoras que são de todas as homenagens e elogios que
se possam fazer.
Para não estragar a festa dos
outros, choramos em silêncio. Seguramos as lágrimas que forçam fluir de nossos
olhos. Abrimos sorrisos falsos, suportamos o aperto no coração, invejamos a
alegria de amigos e parentes, mas, educadamente, disfarçamos nossa extrema dor
e saudade.
De minha parte, particularmente,
peço licença aos leitores para render homenagens a minha mãe Nice. Se hoje
estivesse entre nós, não perderia a oportunidade de a ela agradecer por me
levar à escola, mesmo quando eu não queria ir (sim, podem acreditar, isso
realmente aconteceu!).
Meus irmãos e eu não deixaríamos
passar a chance de abraçá-la, beijá-la, confessar o imenso amor que por ela
sentíamos, e presenteá-la com algum afago, coisa que adorava. Sei que minha mãe
não era perfeita. Era humana e, portanto, pecadora e cheia de defeitos. Mas
quem a conhecia de verdade sabia que ela se esforçava o máximo para agradar a
todos.
Ela ensinou como ser cristão, justo,
honesto, educado, paciente, tolerante. Se não tenho todas essas qualidades, o
único culpado sou eu. Até hoje, passados mais de trinta e cinco anos do seu
falecimento, guardo vivas em mim as lembranças dos ótimos momentos que passamos
juntos.
Minha mãe, enquanto viveu,
esforçou-se apenas para ser uma ótima dona-de-casa. Se não conseguiu ser
perfeita, foi por causa das inúmeras dificuldades que sempre a perseguiram.
Isso, porém, não é relevante. Nos 54 anos em que esteve sobre a Terra, tudo o
que ela fez, todos os atos que praticou, tiveram um único objetivo: ser feliz e
fazer os seus também felizes.
Se não fosse por ela, não
acreditaria na existência de outra vida. Somente minha mãe me faz confiar que
um mundo melhor espera por quem se comporta corretamente nesta vida. Deus, em
sua infinita bondade e sabedoria, certamente preparou um lugar para receber
aqueles que, enquanto estiveram entre nós, tornaram este mundo um lugar decente
e repleto de amor.
Minha saudosa e bondosa mãe, com toda certeza, está nesse lugar. E eu só peço ao Criador que me conceda a graça de, quando partir para vida eterna, ter uma nova oportunidade, uma só que seja, de dar um longo abraço e afetuoso beijo na mais linda, adorável e maravilhosa mulher que conheci.
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