Prefeitura Itabuna

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13 de dezembro de 2015

ITABUNA EM ESTADO DE “SALVE-SE QUEM PUDER

Captação de água da Emasa em Nova Ferradas é referência
do quanto a situação está caótica em Itabuna
A gente nunca se planeja para situações de extrema dificuldade em nossas vidas. Dizem que imaginar o pior é a melhor forma de se preparar para ele. E o pior já está acontecendo com a crise hídrica em Itabuna. A cada dia que passa, os níveis dos reservatórios que abastecem a cidade caem um pouco mais e, com o longo período de estiagem - e nada de água acumulada -, o cenário que se desenha num futuro não muito distante é verdadeiramente catastrófico. Muitas obras de ficção já exploraram a premissa de um mundo em colapso pela falta de água. E, na maior parte deles, o cenário não é bom. Este é um momento de reflexão sobre o que temos feito da água que temos, ou tínhamos. Que tal fazermos um esforço de imaginação fundamentada no que de pior pode acontecer se a água realmente acabar? O que nos aguarda para além de rios secos? A primeira mudança que seria notada aconteceria dentro da casa de cada itabunense. Nesta Itabuna hipotética, toda e qualquer água deverá ser comprada - e ela não será barata. Sendo assim, o precioso líquido seria utilizado basicamente para o consumo e para a higiene pessoal - mas em quantidades cuidadosamente reguladas. O banho, de canequinha ou com pano úmido, mostraria a cruel e mal cheirosa realidade da seca. Deixaríamos a louça de lado para conviver apenas com pratos, talheres e copos descartáveis. E no banheiro, sem dispormos das descargas, o fedor imperaria, maquiado por um arsenal de poderosos aromas artificiais. Mestres na arte de fazer perfume e vivendo em um país de clima ameno, os franceses podem se dar ao luxo de não serem tão chegados ao banho quanto nós brasileiros. A falta completa de água nos aproximaria dos franceses já que, sem banho, seria praticamente impossível passar um dia sem perfume. O que já foi supérfluo passaria a ser uma necessidade para evitar o cheiro de corpo (CC). Desodorantes, perfumes e lenços umedecidos se tornariam itens básicos a qualquer cidadão. A água não viria mais pelo cano e a escassez do líquido na Itabuna seca o transformaria em um bem valioso. Tão valioso que seu transporte se assemelharia ao transporte de valores, com empresas de segurança contratadas para acompanhar caminhões pipa vindos de outras regiões do Brasil. Nesse cenário, não seria impossível que facções criminosas que ocupam comunidades na periferia tomassem os caminhões para distribuir água em regiões esquecidas pelo poder público. Ataques por água se tornariam fatos corriqueiros já que a cidade é enorme e não haveria outro jeito de entregar água senão com caminhões pipa circulando diuturnamente pela cidade. Com a falta completa de água, as poucas fábricas e empresas de Itabuna devem parar e os funcionários podem acabar demitidos ou mandados para casa em regime de férias coletivas. Quem já colocou os pés em uma cozinha sabe que água é fundamental em quase todas as dietas. A falta do líquido precioso tornaria o ato de cozinhar extremamente caro - um imenso problema não só para quem cozinha para a família, mas também para os restaurantes. Manter um restaurante aberto, com o uso de água tanto na cozinha quando nos banheiros, seria para poucos. E o valor desta estrutura, é claro, seria repassado para os clientes. Arroz, feijão, salada, macarrão - estes são alimentos que dependem muito da água para chegarem à mesa. Com a alta dos alimentos, seria vantajoso comprar carne bovina - vinda de outras regiões do País - e peixes de água salgada para preparo em grelhas ou churrasqueiras. A falta de água pode fazer com que a maioria das escolas públicas mande as crianças para casa. Escolas particulares investiriam na compra de água, mas o gasto seria repassado aos pais com alta na mensalidade, tornando a vida na já cara Itabuna ainda mais dispendiosa. Escolas em período integral e que servem merenda provavelmente teriam de parar com o serviço e as crianças teriam que voltar para casa mais cedo. Com o colapso na distribuição de água e demissões em massa, não haveria mais motivo para muitos itabunenses continuarem na cidade. Alguns podem optar por Salvador e cidades próximas, onde a crise não é tão forte. Outros podem acabar viajando para outros Estados onde moram familiares. O prefeito pode até vir a criar um programa de incentivo para que as pessoas que querem deixar Itabuna saiam da cidade. Uma ajuda de custo pode até ser oferecida para que quem já quer deixar a região o faça mais rapidamente. O comércio de água e alimentos tem regulamentação própria. Com a seca, a venda de versões pirata desses produtos, ou seja, que não respeitam as duras e necessárias leis que regulam o setor, pode ser tornar realidade. E como não haveria alternativa ao consumidor, água poluída e tratada a toque de caixa com tabletes de cloro, por exemplo, seria vendida - e comprada - por preços altíssimos. Algumas instituições comerciais perderiam sua função social e seriam fiscalizadas pela prefeitura. Clubes com piscina e lava-rápidos, por exemplo, seriam proibidos de funcionar até o término da situação crítica. Por causa da falta de água, serviços deixariam de ser prioridade do governo e toda água destinada para este meio seria revertida para o consumo humano. A falta de água na torneira durante dias iria causar uma verdadeira disputa pelo líquido. Saques em depósitos de água e invasão de prédios públicos se tornariam rotina. Para conter os ânimos em Itabuna, o Exército e a Força Nacional poderiam ter de ser convocadas para garantir a ordem. A cidade entraria em nível de alerta e, com o avançar da crise, até um toque de recolher pode vir a ser decretado em alguns bairros. Salve-se quem puder!

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