Captação
de água da Emasa em Nova Ferradas é referência
do
quanto a situação está caótica em Itabuna
|
A
gente nunca se planeja para situações de extrema dificuldade em nossas vidas.
Dizem que imaginar o pior é a melhor forma de se preparar para ele. E o pior já
está acontecendo com a crise hídrica em Itabuna. A cada dia que passa, os
níveis dos reservatórios que abastecem a cidade caem um pouco mais e, com o
longo período de estiagem - e nada de água acumulada -, o cenário que se
desenha num futuro não muito distante é verdadeiramente catastrófico. Muitas
obras de ficção já exploraram a premissa de um mundo em colapso pela falta de
água. E, na maior parte deles, o cenário não é bom. Este é um momento de
reflexão sobre o que temos feito da água que temos, ou tínhamos. Que tal
fazermos um esforço de imaginação fundamentada no que de pior pode acontecer se
a água realmente acabar? O que nos aguarda para além de rios secos? A primeira
mudança que seria notada aconteceria dentro da casa de cada itabunense. Nesta
Itabuna hipotética, toda e qualquer água deverá ser comprada - e ela não será
barata. Sendo assim, o precioso líquido seria utilizado basicamente para o
consumo e para a higiene pessoal - mas em quantidades cuidadosamente reguladas.
O banho, de canequinha ou com pano úmido, mostraria a cruel e mal cheirosa
realidade da seca. Deixaríamos a louça de lado para conviver apenas com pratos,
talheres e copos descartáveis. E no banheiro, sem dispormos das descargas, o
fedor imperaria, maquiado por um arsenal de poderosos aromas artificiais.
Mestres na arte de fazer perfume e vivendo em um país de clima ameno, os
franceses podem se dar ao luxo de não serem tão chegados ao banho quanto nós
brasileiros. A falta completa de água nos aproximaria dos franceses já que, sem
banho, seria praticamente impossível passar um dia sem perfume. O que já foi
supérfluo passaria a ser uma necessidade para evitar o cheiro de corpo (CC).
Desodorantes, perfumes e lenços umedecidos se tornariam itens básicos a
qualquer cidadão. A água não viria mais pelo cano e a escassez do líquido na
Itabuna seca o transformaria em um bem valioso. Tão valioso que seu transporte
se assemelharia ao transporte de valores, com empresas de segurança contratadas
para acompanhar caminhões pipa vindos de outras regiões do Brasil. Nesse
cenário, não seria impossível que facções criminosas que ocupam comunidades na
periferia tomassem os caminhões para distribuir água em regiões esquecidas pelo
poder público. Ataques por água se tornariam fatos corriqueiros já que a cidade
é enorme e não haveria outro jeito de entregar água senão com caminhões pipa
circulando diuturnamente pela cidade. Com a falta completa de água, as poucas
fábricas e empresas de Itabuna devem parar e os funcionários podem acabar
demitidos ou mandados para casa em regime de férias coletivas. Quem já colocou
os pés em uma cozinha sabe que água é fundamental em quase todas as dietas. A
falta do líquido precioso tornaria o ato de cozinhar extremamente caro - um
imenso problema não só para quem cozinha para a família, mas também para os
restaurantes. Manter um restaurante aberto, com o uso de água tanto na cozinha
quando nos banheiros, seria para poucos. E o valor desta estrutura, é claro,
seria repassado para os clientes. Arroz, feijão, salada, macarrão - estes são
alimentos que dependem muito da água para chegarem à mesa. Com a alta dos
alimentos, seria vantajoso comprar carne bovina - vinda de outras regiões do
País - e peixes de água salgada para preparo em grelhas ou churrasqueiras. A
falta de água pode fazer com que a maioria das escolas públicas mande as
crianças para casa. Escolas particulares investiriam na compra de água, mas o
gasto seria repassado aos pais com alta na mensalidade, tornando a vida na já
cara Itabuna ainda mais dispendiosa. Escolas em período integral e que servem
merenda provavelmente teriam de parar com o serviço e as crianças teriam que
voltar para casa mais cedo. Com o colapso na distribuição de água e demissões
em massa, não haveria mais motivo para muitos itabunenses continuarem na
cidade. Alguns podem optar por Salvador e cidades próximas, onde a crise não é
tão forte. Outros podem acabar viajando para outros Estados onde moram
familiares. O prefeito pode até vir a criar um programa de incentivo para que
as pessoas que querem deixar Itabuna saiam da cidade. Uma ajuda de custo pode
até ser oferecida para que quem já quer deixar a região o faça mais
rapidamente. O comércio de água e alimentos tem regulamentação própria. Com a
seca, a venda de versões pirata desses produtos, ou seja, que não respeitam as
duras e necessárias leis que regulam o setor, pode ser tornar realidade. E como
não haveria alternativa ao consumidor, água poluída e tratada a toque de caixa
com tabletes de cloro, por exemplo, seria vendida - e comprada - por preços
altíssimos. Algumas instituições comerciais perderiam sua função social e
seriam fiscalizadas pela prefeitura. Clubes com piscina e lava-rápidos, por
exemplo, seriam proibidos de funcionar até o término da situação crítica. Por
causa da falta de água, serviços deixariam de ser prioridade do governo e toda
água destinada para este meio seria revertida para o consumo humano. A falta de
água na torneira durante dias iria causar uma verdadeira disputa pelo líquido.
Saques em depósitos de água e invasão de prédios públicos se tornariam rotina.
Para conter os ânimos em Itabuna, o Exército e a Força Nacional poderiam ter de
ser convocadas para garantir a ordem. A cidade entraria em nível de alerta e,
com o avançar da crise, até um toque de recolher pode vir a ser decretado em
alguns bairros. Salve-se quem puder!
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