Quadrilhas de Brasília se exibem durante o ano todo |
Se antes dependia imensamente da bancada governista
para tentar aprovar as reformas e justificar sua permanência no Palácio do
Planalto, agora o presidente Michel Temer (PMDB) deve sua vida a ela,
principalmente depois da entrevista-bomba dada pelo empresário Joesley Batista,
dono da JBS, à revista Época que circulou este final de semana. O quadro
descrito por Joesley, em detalhes, sobre como funcionam políticos e partidos no
Brasil é simplesmente estarrecedor, por mais que não constitua, na prática,
nenhuma grande novidade para quem milita neste universo. Mas é inegável que os
anti-reformistas que vêm na queda de Temer a garantia de que não se mudará um
milímetro de uma Previdência que é basicamente do funcionalismo público
avançaram mais uma casa em relação a seu objetivo e tornaram a permanência do
presidente ainda mais incerta e instável, senão mais dependente dos humores de
um Congresso que, em sua maioria, funciona exatamente da forma como Joesley
descreveu no seu depoimento histórico, construído numa narrativa tão perfeita e
minuciosa que parece mais ter sido redigido do que efetivamente contado à
publicação. Embora Temer seja o foco das atenções no momento e tenha se tornado
impossível assumir sua defesa ante o verossimilhante relato de Joesley, o
protagonista do mais generoso acordo de delação premiada quiçá já celebrado
pelo Ministério Público brasileiro não deixa de dar uma contribuição
valiosíssima para se entender como o país mergulhou em tamanho grau de
corrupção sistêmico e generalizado tendo como pano de fundo a máquina pública,
ao estabelecer como recorte histórico para a máxima degradação do Estado
brasileiro o governo do ex-presidente Lula. “O PT institucionalizou a corrupção
no país”, é o mínimo que diz o empresário, que de caipira só tem o jeito
igualmente estudado. Aliás, nem a ex-presidente Dilma Rousseff, vendida como a
mais pura alma no mar de lama em que seu partido se transformou, escapa de suas
confissões desavergonhadas. Mais hábil do que os executivos que o antecederam
no expediente da delação premiada e certamente jamais imaginaram que a Lava
Jato atingiria o patamar que alcançou, Joesley consegue pintar de si mesmo o
quadro típico do empresário vítima de quadrilhas políticas que se notabilizaram
em achacar quem se aproximasse, dependesse ou tivesse negócios com o Estado. Começou
assim, segundo seu relato, com os quadrilheiros do PT e transcorria assim com
os quadrilheiros do PMDB, incluído aí, sempre segundo seu depoimento, o tucano
Aécio Neves, que, aliás, foi parceiro de Lula até ser preterido como candidato
do petista à presidência em favor de Dilma, lá pelos idos de 2010. Joesley não
deixa dúvidas de que era a certeza da impunidade e a facilidade para assaltar o
Estado que transformaram no Brasil a atividade política no meio mais rápido e
fácil de ascensão social e econômica. Ante o que ainda está por vir, só há uma
solução: que a economia se descole da política para o bem de quem realmente
leva este país nas costas. Por Raul Monteiro.
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