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Natal Itabuna

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Trief

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22 de fevereiro de 2009

GADO MANSO - Sem muito esforço, todos devem lembrar dos montes dos escândalos de corrupção nas várias esferas de governo. Quem lê jornais e revistas de notícias políticas sabem como essa notícia é corriqueira. Existem os mais escabrosos, mas todos trazem imenso prejuízo à nação, e todos ficam indignados; todos não fazem nada de efetivo para combater a corrupção e chegar à punição. Cada governo que entra repete as promessas e mencionam as ações. Não demora e os noticiários do sumiço de grandes fortunas volta. Com a chegada das chuvas de verão as cenas parecem ser as mesmas de há quarenta anos atrás - a diferença fica por conta da tecnologia, e todos ficam indignados; todos não fazem nada de efetivo pelas ações preventivas e construções seguras. A função das autoridades restringe-se à contagem dos mortos, com números incorretos. Com vidas perdidas pelas chamadas balas perdidas, que só ampliam de locais aonde elas alcançam, antes restritas às ruas, agora, é em casa, na escola, na escola de samba, acordados ou dormindo, e todos ficam indignados; e todos não fazem nada de efetivo contra mais essa matança típica brasileira. Com crianças violentadas, mulheres apanhando diariamente, ensino com professores tirando nota zero, escolas caindo aos pedaços, lixo nas ruas de todas as cidades brasileiras, terrenos baldios só criando ratos, favelas surgindo aos montes, são problemas que há décadas deixam todos indignados; todos não fazem nada de efetivo pela solução. Com o dinheiro jogado pelo ralo com despesas com um Parlamento tão caro quanto inútil, assim tem sido a retórica de despesas com a Câmara dos Deputados, com as assembléias legislativas e com as câmaras de vereadores, todos ficam indignados; todos não fazem nada contra esse desperdício de dinheiro público. Com cidades inteiras, pelo país inteiro, onde não se vê um policial fazendo ronda, e uma Justiça que não julga jamais um caso de pessoa renomada coroam o caos em que se transformou o Estado brasileiro. Um Estado completamente falido, também há muitas décadas. Só que a grande maioria da população não tem poder e cultura para organização e protesto. Quando isso ocorre, vândalos e até pessoas apenas despreparadas, ou infiltradas, exageram e aí o pau come. E os que têm capacidade e espaço na mídia escrevem pouco, pois, apesar de agora serem atingidos pela violência desenfreada, ainda não sofrem na mesma proporção dos pobres da periferia brasileira. Poderíamos enumerar mais cinco mil problemas repetidos há décadas, com as mesmas explicações pela falta de solução. As entrevistas nas televisões parecem replay, apenas mudam os atores. Os argumentos indignados e os fatos são os mesmos. Admirável Gado Novo, música de José Ramalho, retrata claramente o comportamento acomodado do cidadão brasileiro. Pelas iniciativas e dever naturais das autoridades brasileiras, daqui a vinte anos as águas continuarão carregando casas e pessoas, como carregaram há 30 anos. Os “bois” mudaram, mas os “vaqueiros” são os mesmos. Essa massa de 200 milhões precisa sair da condição de gado manso e passar à ação efetiva. Mas, antes, os formadores de opinião precisam escrever que essa mudança se faz necessária. Todos; a regra; em todos existem as exceções. Mas a solução virá pelos “todos”. (Pedro Cardoso da Costa).

Um comentário:

  1. Reservo-me ao direito de não me identificar. Mas gostaria muito que este meu comentário venha a ser postado. E desejo inicialmente, reconhecer neste seu blog, um espaço democrático e que realmente faz a notícia chegar aos formadores de opinião. Val Cabral tem se revelado um excelente comunicador da imprensa falada e escrita e este seu blog é o melhor da cidade. O assunto que quero abordar necessita da paciência dos leitores, pois não posso expressá-lo sem a delonga que requer suas minúcias. Mas vamos lá:
    O Brasil não é um país intrinsecamente corrupto. Não existe nos genes brasileiros nada que nos predisponha à corrupção, algo herdado, por exemplo, de desterrados portugueses. A Austrália que foi colônia penal do império britânico, não possui índices de corrupção superiores aos de outras nações, pelo contrário. Nós brasileiros não somos nem mais nem menos corruptos que os
    japoneses, que a cada par de anos têm um ministro que renuncia diante de denúncias de corrupção. Somos, sim, um país onde a corrupção, pública e privada, é detectada somente quando chega a milhões de dólares e porque um irmão, um genro, um jornalista ou alguém botou a boca no trombone, não por um processo sistemático de auditoria. As nações com menor índice de corrupção são as que têm o maior número de auditores e fiscais formados e treinados. A Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes. Nos países efetivamente auditados, a corrupção é detectada no nascedouro ou quando ainda é pequena. O Brasil, país com um dos mais elevados índices de corrupção, segundo o World Economic Forum, tem somente oito auditores por 100.000 habitantes, 12.800 auditores no total. Se quisermos os mesmos níveis de lisura da Dinamarca e da Holanda precisaremos formar e treinar 160.000 auditores. Simples. Uma das maiores universidades do Brasil possui hoje 62 professores de Economia, mas só um de auditoria. Um único professor para formar os milhares de fiscais, auditores internos, auditores externos, conselheiros de tribunais de contas, fiscais do Banco Central, fiscais da CVM e analistas de controles internos que o Brasil precisa para combater a corrupção.
    A principal função do auditor inclusive nem é a de fiscalizar depois do fato consumado, mas a de criar controles internos para que a fraude e a corrupção não possam sequer ser praticadas. Durante os anos de ditadura, quando a liberdade de imprensa e a auditoria não eram prioridade, as verbas da educação foram redirecionadas para outros cursos. Como conseqüência, aqui temos doze economistas formados para cada auditor, enquanto nos Estados Unidos existem doze auditores para cada economista formado. Para eliminar a corrupção teremos de redirecionar rapidamente as verbas de volta ao seu devido destino, para que sejamos uma nação que não precise depender de dedos duros ou genros que botam a boca no trombone, e sim de profissionais competentes com uma ética profissional elaborada.
    Países avançados colocam seus auditores num pedestal de respeitabilidade e de reconhecimento público que garante a sua honestidade. Na Inglaterra, instituíram o Chartered Accountant. Nos Estados Unidos eles têm o Certified Public Accountant. Uma mãe inglesa e americana sonha com um filho médico, advogado ou contador público. No Brasil, o contador público foi substituído pelo engenheiro.
    Bons salários e valorização social são os requisitos básicos para todo sistema funcionar, mas no Brasil estamos pagando e falando mal de nossos fiscais e auditores existentes e nem ao menos treinamos nossos futuros auditores. Nos últimos nove anos, os salários de nossos auditores públicos e fiscais têm sido congelados e seus quadros, reduzidos - uma das razões do crescimento da corrupção. Como o custo da auditoria é muito grande para ser pago pelo cidadão individualmente, essa é uma das poucas funções próprias do estado moderno. Tanto a auditoria como a fiscalização, que vai dos alimentos e segurança de aviões até os direitos do consumidor e os direitos autorais.
    O capitalismo remunera quem trabalha e ganha, mas não consegue remunerar quem impede o outro de ganhar roubando. Há quem diga que não é papel do Estado produzir petróleo, mas ninguém discute que é sua função fiscalizar e punir quem mistura água ao álcool. Não serão intervenções cirúrgicas (leia-se CPIs), nem remédios potentes (leia-se códigos de ética), que irão resolver o problema da corrupção no Brasil. Precisamos da vigilância de um poderoso sistema imunológico que combata a infecção no nascedouro, como acontece nos países considerados honestos e auditados. Portanto, o Brasil não é um país corrupto. É apenas um país que não prestigia e nem cria mecanismos sérios de impedir a corrupção.

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